2003-10-15

Um comentário é a exteriorização de algo pessoal, que resulta da experiência de vida, do processo de aprendizagem, dos valores, das influências, dos modelos, em resumo, dos impactes do meio.

Por isso é tão difícil ter aquela objectividade cortante.

Em política, ou pelo menos nos comentários com um fundo político, ou de economia política, prevalecem as orientações ideológicas do comentador. Na blogosfera é igual.

No processo de construção da democracia, na acção política, especialmente em oposição, agravando-se os que se situam na que chamo oposição permanente, têm o condão de expressar as posições em regime de ideologia desenfreada.

Já os partidos que formam governo têm necessariamente uma postura diferente (o que não significa que quando fora dele não sejam demagógicos).

Actualmente, existe um “bloco” da esquerda, mais intelectual, que constrói uma postura demagógica, influenciada essencialmente pela pouca hipótese de governar e por estarem inseridos na “burguesia” que abominam. Estes desempenham, no entanto, quando tomado em doses moderadas, um papel importante no equilíbrio partidário. Não são naturalmente permeáveis a influências, não pelas suas qualidades, mas como resultado do seu insignificante poder, depois são desbocados e gostam de tocar na ferida. Bem hajam por isso. Depois temos aquela esquerda estalinista, que ainda toma posições ignóbeis em democracia, não escondendo sempre a sua postura dogmática, mesmo depois das suas referência terem caído, todas, ficando apenas alguns déspotas em idade de reforma e uma mega potência, que entrou definitivamente na experiência do capitalismo. Ainda assim, têm o seu espaço, influenciam decisões e sobretudo têm poder, resultante da organização celular e subterrânea, que nunca chegou verdadeiramente a ser desactivada. Não quero falar aqui dos sindicatos.

Na construção das posições (esta é a minha postura), para além das influências que todos temos, que nos acompanham sempre, devemos ter consciência das outras formas de encarar o problema. E é aqui que as coisas falham. Não é falta de visão. O problema é que deixamos toldar a vista com as “nossas” razões. É necessário ir mais além. É fundamental recolher um conjunto de influências, para construir a nossa visão. Pessoalmente, penso que dos pensadores mais à esquerda, até aos piores fascistas, encontramos certamente ideias fundamentais e conceitos correctos. Não são as acções e a concretização das teorias que desvirtuam a fundamentação teórica. Assim, já não havia comunistas. Não são por isso, na sua maioria (ou quero acreditar que não) ditadores, que do povo apenas têm as frases de regime. Certo?

Por isso aconselho que a esquerda leia os intelectuais da direita e vice versa. Vão ver que ficam confundidos com algumas teorias, que julgavam suas. Mas fundamentalmente, que se mostrem abertos à evolução. Este é o problema principal dos radicais (seja de que lado for).

Este escorrimento não termina aqui. Tenho pena que a participação política do indivíduo “colective” a sua maneira de pensar. Eu, por exemplo, embora tenha a minha identidade política bem definida (e não estou a falar em partidos) estou convencido que fui buscar quem sou hoje aos dois lados da linha. Definitivamente. Embora identificado com os conceitos do partido que escolhi para participar, não significa que diga amém a tudo. Nada disso. Posso não falar em público sobre as discordâncias, mas definitivamente não as assumo como dogmas e defendo com “unhas e dentes”.

Os partidos são chapéus, podemos não conseguir escolher o que nos ficar mais à medida, mas certamente escolhemos o modelo que mais gostamos. [Ou então mandamos fazer um, como o Dr. Monteiro, mas depois temos o problema de não conseguimos sair à rua com ele]...

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