2003-10-13

Um dia...

Um dia gostava de não ter que escrever. Sim, escrever pode parecer algo intelectual e estimulante. Nada disso. Escrever é não poder fazer.

A necessidade que algumas pessoas têm de escrever (incluo-me aqui) está directamente relacionado com o vontade de mudar, melhorar, chatear, resmungar, reflectir, influenciar, criticar, negativamente ou positivamente, ou seja, pela critica depreciativa pura, ou pela mais construtiva. Entre estas, existe uma panóplia de estirpes...

Efectivamente a oportunidade de escrever não está ao virar da esquina, não basta querer. A democracia e a tecnologia (mais a segunda que a primeira) tornou todavia mais fácil o acesso aos meios de comunicação, seja na perspectiva de impactado, seja na de impactador.

Aqui neste nosso “meio”, blogar implica na maioria das vezes ler. Somos lidos e lemos. Esta particularidade torna a circulação de informação impressionante. Torna o diálogo “amonologado” uma nova realidade. Pessoalmente gosto das conversas e referenciações feitas por aqui, gosto das “bocas”, dos toques e, algumas vezes, das discussões.

Escrever é hoje natural. Cada vez mais. Embora cada vez menos se tenha o prazer de sentir a tinta permanente escorrer pela pena da caneta abaixo, impregnando o papel, deixando um suave ruído na sua passagem, dependendo da rugosidade da folha e um cheiro característico, para além de um ou outro borrão nos dedos. Ou então aquele barulho das letras a serem marteladas no papel, em sintonia com os nossos dedos onde um erro implicava rescrever tudo. Isso faz parte da história, do passado. Hoje escrever pode significar não fazer qualquer barulho, apenas produzir bits de informação, armazenada num disco, impessoal e frio.

Vivo então nesta dicotomia entre o produtivo e o emotivo, entre o racional e o romântico, entre o imediato e o eterno, entre o permanente e o etéreo.

Mas, nem a minha caneta, nem a minha velha máquina de escrever acedem à Internet.


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