2004-04-06

Opiniões e outras tretas

Artigo publicado no Magazine do Algarve (Abril)

(Este era o título de uma coluna de opinião que assinei há muitos anos num jornal. Lembrei-me de lhe limpar o pó e faze-lo respirar.)

As opiniões são o resultado de um olhar crítico, embora possam existir outras sobre o mesmo assunto, é esta que está neste momento a ser lida. E a importância que é consagrada nesse acto é fundamental para avivar em nós sentimentos contraditórios, concordantes ou indiferentes. Esta é a minha e a sua grande liberdade.

Já evoluímos dos chavões pós revolucionários, do estigma da ditadura, do comunismo (enquanto regime totalitário), da descolonização, do crescimento... muitos destes conceitos marcaram uma época, retratando as preocupações desse período.

Actualmente a nossa sociedade vive obcecada pelas palavras: qualidade, desenvolvimento sustentado, excelência, competência, produtividade, entre outras. Demos um passo em frente! Será?

Cada um de nós, num qualquer ponto do quotidiano, já usou um (ou todos) estes termos. Mas estaremos conscientes que muitas vezes não passam de palavras vãs, sem aderência à realidade ou simples retórica?

No discurso, e até no planeamento, procura-se ter presente estes conceitos-chave, não pela vantagem competitiva (aqui está outro conceito) mas porque estão na moda; como ultrapassar a barreira que existe entre o dizer e o fazer? Entre o pensar e o assumir?

Os recursos humanos são a chave. Quando pouco motivados e sem sentimentos de pertença, tornam-se pouco preocupados com a eficiência da organização; os gestores, mais preocupados com as folhas de balanços do que com a empresa enquanto interveniente na sociedade, não procuram a sintonia (ou simbiose) possível, que resulta da integração da empresa como agente activo e participativo na comunidade - pagando os seus impostos, assumindo o seu papel de motor da economia, empregador, dinamizador, cliente de outros... o que nos leva à (necessidade de) formação profissional e ao ensino. Em resumo, à formação de um cidadão activo e participativo.

Os governos já fizeram um grande investimento na educação. Criaram uma rede de ensino pré-escolar, básico, secundário, profissional e superior. A falta de formação não é por falta de instituições, há muito que deixou de o ser.

Actualmente é mais importante investir no controlo e adequação da formação do que na formação em si. Também porque a formação tem servido para financiar instituições; os cursos têm surgido com pouca correlação com as necessidade reais do mercado de trabalho, actuais ou futuras.

Não querendo discorrer sobre a importância do planeamento na gestão moderna, penso que não existe ainda capacidade para sustentar a eficiência de forma transversal e estratégica, já que a mesma ainda não é real. Não por falta de preparação de cada um de nós, mas porque a sociedade, enquanto figura abstracta, ainda não interiorizou essa necessidade. Não faz parte do seu código genético.

Pessoalmente acredito que estamos no caminho da competitividade, mas temos um atraso considerável que resultou de uma ditadura castrante e de um período revolucionário irresponsável, já para não falar na primeira república... Por isso, nestes 30 anos, conseguimos evoluir bastante. Mas ainda somos vítimas das opções tomadas no passado. Podemos ganhar a corrida, desde que cada um, individualmente, e a sociedade, no conjunto, assuma a enorme responsabilidade que é produzir responsavelmente, desde aquele que varre as ruas até ao que fornece a segurança, passando pela classe política até ao empresário. Todos fazemos parte desta engrenagem. Todos somos fundamentais. Há que trabalhar concertadamente e com objectivos.

Estas foram opiniões pessoais, ou outra treta qualquer...

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