2005-08-19

As minhas férias no Quénia...

A contrariedade de gozar férias numa época em que as labaredas cospem alto o seu terror não é justificação séria para ataques de nível mesquinho e sensaborão, todavia apropriados em época de Silly Season.

Estão a arder florestas, terrenos de cultivo e zonas habitacionais. Está a arder o meu país. Aquele que já visitei amiúde e em miúdo. Aquele que já não conseguirei mostrar a quem me descender. Pelo menos como o conheci.

Sobre as férias do Engenheiro, gostaria de dizer que foram, na minha opinião, mal escolhidas. Os governantes devem aproveitar as suas férias para conhecer o país. Numa altura de crise, poderiam fazer umas incursões neste país ainda fantástico. Embora cada vez menos verde.

Muita tinta tem escorrido de canetas escorreitas sobre este assunto. Quase tanta como água sobre o fogo. Nem uma nem outra conseguem apagar este flagelo moderno. Ninguém tem coragem de perguntar, nos sítios apropriados, porque motivo, nestes últimos anos, o país tem sido roubado de tantos milhares de hectares de floresta! Antigamente, quando a maioria dos portugueses viviam sem condições económicas, plantavam nestas zonas para o seu sustento, aparavam a floresta para alimentar os fornos e as lareiras. Hoje, com o inegável desenvolvimento económico, de três décadas, a floresta foi abandonada em detrimento de aquecedores a óleo e “fast food”.

Não sou um revivalista. Naturalmente. Mas é necessário encontrar um equilíbrio, impondo, se necessário, uma legislação que penalize fortemente os proprietários rurais e os incendiários. Não são a mesma coisa, mas os primeiros ajudam os segundos, ainda que inconscientemente.

Então qual o caminho. Sobre a prevenção, nem vou escrever mais, é essencial. Mas também um quadro penal que torne a actividade, já quase profissional, de atear um fogo um risco demasiado grande. A moldura penal prevê penas irrisórias face às perdas materiais, psicológicas e humanas. Será mais grave destruir o trabalho de várias vidas, de animais e milhares de hectares do que a de uma pessoa? Perguntem aqueles que ficaram sem o trabalho de quatro gerações. Perguntem aos que utilizam com respeito a natureza, que vivem nela e que vão buscar a sua paz em passeios domingueiros por entre pinheiros e alfazemas. Mas perguntem a vós próprios, se tivessem um “pedaço” de terra verdejante e, à laia de um miserável cobarde, vissem perder aquela oliveira com 500 anos, ou o tal castanheiro onde colocavam o baloiço em criança, irremediavelmente perdido. Pensem também no país que querem deixar aos vossos filhos. Mas não pensem muito. Pois já são tantos a pensar. Falta alguém para agir.

Sr. Primeiro-ministro:

Espero que as suas férias tenham sido boas. Mas agora, já revitalizado, é altura de reformular a nossa política florestal. Dota-la de um planeamento, replantar as zonas ardidas, coagir os proprietários na limpeza dos seus terrenos (começando pelo grande proprietário que é o Estado!). Impedir desenvolvimento imobiliário (e golfe) nessas zonas por períodos de 50 anos, criar uma lei de excepção, em que a madeira ardina não seja alvo de especulação… Chega de conversa. O nosso país não se apaga com água.

Os políticos pensam que tudo gira à sua volta. Eu prefiro um país onde as empresas sejam o motor do desenvolvimento, onde o estado seja apenas regulador e fiscalizador, não um ”player”. Gostava de chegar ao dia em que os políticos fossem uma classe de pessoas honradas, onde a ética imperasse e sem necessidade de assumirem o protagonismo como actualmente. Pessoas orientadas para desenvolver uma verdadeira missão de serviço público. O que é que este parágrafo tem a ver com os incêndios? Nada. Tudo.

Esse dia terá de chegar. Só espero ainda estar por cá!

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