2005-12-16

Hipocrisia Europeia

A crise em que a UE mergulhou, viveu esta semana o seu último episódio com a negociação do orçamento, sem que tenha havido até ao momento qualquer consenso. Transcrevo aqui um post de Manuel Castelo-Branco no O Acidental que vale a pena ler.
O fracasso europeu

Ao ler o Economist e o FT neste fim-de-semana, consegui extrair alguns dados muito interessantes sobre o próximo orçamento comunitário:
- 40% do orçamento é utilizado num sector que emprega apenas 2% da população activa europeia.
- Um quarto dos gastos com a Política Agrícola Comum é aplicado em França.
- 80% dos subsídios são atribuídos a apenas 20% dos agricultores que, ao invés de serem simpáticos velhotes com um boné na cabeça (tipo Alain Bové - o destruidor de McDonalds), são enormes aglomerados agro-industriais ou grandes propriedades agrícolas.
- Os subsídios da PAC representam hoje 90% do rendimento antes de impostos de um agricultor.
- Os 30 maiores agricultores franceses (onde se inclui o actual príncipe Alberto do Mónaco) recebem em média um subsídio de quase 400.000 € (euros) ano - ou seja 217 vezes superior ao de 180.000 pequenos agricultores.
- Jacques Chirac ganhou a sua projecção na política, como ministro da Agricultura de Pompidou, defendendo a auto-suficiência alimentar como eixo central da independência geopolítica francesa.
- Por acordo entre os estados-membros, o orçamento agrícola não pode vir a ser alterado até 2013.
- Durão Barroso (ou José Manuel Barroso) acha insuficientes os actuais 6,6% do orçamento, gasto na máquina administrativa europeia face às previstas contratações de pessoal administrativo para Bruxelas nos próximos anos (faz-me lembrar os anos loucos de Guterres: o país a caminhar a passos largos para o abismo, mas ainda assim a engordar a maquina burocrática do Estado).
- Freitas do Amaral critica fortemente a intenção britânica de reduzir o orçamento comunitário dos actuais 1,06% do PNB comunitário para 1% em 2013, dizendo que é uma irresponsabilidade de Tony Blair.É esta a Europa cheia de razão mas com nenhuma autoridade, que vai negociar com os países asiáticos os acordos da Organização Mundial de Comercio relativamente a mercados como os têxteis, vestuário, electrodomésticos, automóveis e químicos.O resultado final só pode ser o fracasso. E ainda bem.
[Manuel Castelo-Branco]
O desenvolvimento que determinados países sub-desenvolvidos conheceriam se a Agricultura europeia deixasse de ser subsidiada, é algo que devia deixar a pensar os nossos dirigentes políticos.

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