2006-10-18

Cidade Capital

Publicado no Região Sul

Portugal vive obcecado pela sua capital. Quando se fala de descentralização, esquecemo-nos que o centro do poder, hoje como ontem, reside lá. As sedes das principais empresas também, assim como os Ministérios. Lisboa é ainda a sede cultural do “reino”.

Ainda que esta distinção seja questionável, representa de certa forma a nossa resignação. Estamos cada vez mais assimétricos, ainda que estatisticamente os efeitos não sejam muito visíveis, mas estão lá.

É certo que Portugal tem apenas duas cidades dignas desse nome. Existem aglomerados com muitos habitantes, mas quase sem mais nada, como tantas cidades-dormitório, ou outras com (quase) tudo o resto, mas sem população em número relevante. Acaba por ser o corolário de um País pequeno e com décadas (ou mesmo séculos) sem uma estratégia demográfica.

Como fizeram os nossos antepassados? Perceberam as vilas e cidades, espalhadas pelo território, como fixadores de população, e, por essa via, da soberania. Assim foi com os Romanos, Visigodos, Muçulmanos, depois da fundação de Portugal e assim sucessivamente até aos nossos dias. Hoje as fronteiras estão seguras… mas a distribuição do rendimento (e da produção) provocam clivagens e secam uma parte do território. Basta comparar a população no interior com a apresentada há 30, 40 anos e percebe-se que ao mudarmos de objectivos, de tecnologia e de políticas, mudamos também a “paisagem” e a moldura demográfica. Com os resultados que estão à vista.

Os municípios também não souberam (ou não conseguiram) apostar em estratégias de promoção do seu território. Era (e é) necessário saber “vender” a imagem que o preço por metro quadrado é mais baixo, as cidades são menos congestionadas, com maior qualidade de vida, com reflexos na produtividade. E não acaba aqui... Até porque existem universidades e politécnicos, estradas e pontes… já que foi feito o esforço inicial, faça-se-lhes justiça e valorize-se esse investimento. Não basta construir uma piscina, um teatro ou um estádio de futebol. É necessário criar condições para a instalação de empresas, geradoras de emprego e inversoras da tendência de fuga dos quadros mais diferenciados.

Em pequeno número, a fixação de investimento, designadamente industrial, pode ter o efeito perverso de provocar uma excessiva dependência nas pequenas cidades. Veja-se do caso de Portalegre. Mas não será o único caminho possível? Em alternativa, fechamos o País periférico até às férias, termas ou qualquer outra necessidade? Até lá, fechamo-nos em Lisboa?

Depois existe a teoria dos acessos viários, da nossa razoável rede de infra-estruturas rodoviárias… cara, não só a factura inicial, como a manutenção e a utilização. Este investimento não está tanto ao serviço do desenvolvimento, mas para tornar o País mais acessível a Lisboa. Isto desafia, de certa forma, a putativa descentralização do Estado, ainda que muito do trabalho tenha sido empurrado para fora, as decisões mantêm-se na velha Metrópole do “Império”.

Nada tenho contra Lisboa. Considero-a uma das capitais mais bonitas e emblemáticas do “velho mundo”. É um destino turístico de excelência e tem tantos atractivos, que é incontornável. Representa um Portugal cosmopolita, moderno e diversificado. Mas não deve sorver Portugal. Não merecemos isso. Mas também nunca o soubemos exigir…

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