2006-10-26

CRIAR valor
Comentário publicado no Canallagos

Empreender, mais do que dinheiro, requer boas ideias, criatividade, perseverança e alguma dose de sorte. Naturalmente que não podemos pedir tudo ao Estado. O nosso tecido produtivo já está bastante dependente dos incentivos que os governos disponibilizam, que os fundos da união Europeia atribuem.

O Estado é, ainda hoje, o maior condicionador da actividade empresarial. As contas públicas “inspiram” a economia, quando deveria ser precisamente o inverso. E, pior que tudo, nem herdamos esta característica. Muito pelo contrário. Bastou 30 anos para conseguimos transformar a economia, ainda que corporativista, com as vicissitudes e condicionalismos decorrentes da ditadura, mas financeira e organizacionalmente independente dos poderes políticos, numa economia que escuta subservientemente o Governo. Tivemos 30 anos para melhorar a economia…

O País necessita construir uma economia que o governo ouça. A democracia também é isso. O dinheiro que está inscrito no Orçamento Geral do Estado não é de quem o gere, mas nosso, dos portugueses e dos que por cá residem e pagam impostos. Essa diferença deve ser assumida, desde logo, por todos. Não basta esticar a mão e pedir mais um subsídio para umas secretárias novas lá na sede da associação. Ou uns Euros para pintar a sede do clube de futebol. Não! É necessário procurar, ou pelo menos aspirar, a uma independência financeira. Seja no sector privado, seja no social!

Mas voltando ao “Empreender”, pois já me estou a afastar do tema. Escrevo este texto depois de ler que o Centro Regional para a Inovação do Algarve, uma parceria entre diversas entidades algarvias, apresentou com a Universidade do Algarve (que integra também o CRIA), o Instituto Politécnico de Setúbal, o Instituto Politécnico de Beja e o Município de Sines, uma proposta para a criação de um Centro de Incubação de Empresas de Base Tecnológica, em Sines. Esta infra-estrutura, a ser aprovada, permitirá a instalação de empresas de base tecnológica aos graduados destes estabelecimentos de ensino superior público.

Sabendo como os projectos estruturantes ou inovadores são difíceis de aprovar e requerem a intervenção de vários parceiros, até devido à necessidade de lóbi e de fazer face ao financiamento, decorrente das necessidades iniciais e de manutenção do projecto, não posso deixar de pensar que foi mais um investimento que a região poderia ter abraçado.

E depois os municípios esbanjam Euros nas associações, no futebol, etc.

Ser empreendedor é também apostar na diferença, no nicho. Espero que o País, e especialmente o Algarve, tenha capacidade de atrair empreendedores, de criar condições de instalação local e de promover sinergias. A diversificação da nossa economia regional depende disso. Neste momento, os recursos públicos, os nossos recursos, devem ser investidos com uma estratégia de promoção da criação de valor, de riqueza, de emprego. Só assim podemos aspirar a crescer como os outros Países europeus, não por causa (e abaixo) deles.

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