2007-04-08

O Magistério
Publicado no Magazine do Algarve

A Educação é de facto um dos factores diferenciadores de um País ou de uma região. Apostar na Educação e na Cultura não é mais que investir num futuro melhor. Estou convencido disto.

Apesar disso, os Municípios e os Governos não têm apostado nesta área. Com reformas Educativas em cima de reformas Educativas, os nossos Governos não conseguiram chegar ao fim de uma, com prejuízos para todos. Os Municípios consomem tantos recursos noutras áreas, como os subsídios entregues aos clubes e associações de bairro (para não falar de futebol), descurando a Cultura e até a Educação, especialmente na falta de apoio à diferenciação estrutural e tecnológica do Ensino Básico e, até, no papel de liderança das reivindicações por uma coerência ou, melhor, pela constância da política Educativa. Penso que é uma área onde um pacto de regime é possível e desejável. Portugal precisa.

As notícias recentes das agressões de alunos e encarregados de educação sobre professores, assim como as agressões psicológicas a que estão sujeitos, são temas preocupantes. Se no passado, já longínquo, os professores eram figuras austeras, rígidas e até por vezes temidas, foram-se transformando, provavelmente acompanhando o resto da sociedade, em figuras mais fracas e sem autoridade moral sobre os alunos. Não defendo a figura austera, nem a comprometida. Penso existir espaço no meio. Não acredito que com os avanços que foram entretanto introduzidos nas estruturas curriculares dos cursos, designadamente ao nível das técnicas e pedagogias de ensino, não seja possível preparar os professores para esta realidade. Ou até, prepará-los para evitar esta realidade.

Sinto que as escolas foram ficando cada vez menos exigentes ao nível da relação sociedade-escola-aluno. Antigamente (e não me refiro a “outros” tempos, mas apenas recuando 10 ou 15 anos) os alunos chumbavam por falta de aproveitamento ou por faltas, imagine-se!? Actualmente, dar uma falta a um aluno é um problema, discipliná-lo uma aventura, chumbá-lo então…

Apesar de tudo, sem querer desculpabilizar, a profissão de professor do ensino público não foi construída como devia. São colocados muitas vezes a centenas de quilómetros da sua região. Muitos com horários medíocres, inaceitáveis face aos custos de vida e especialmente os associados ao transporte e alojamento. Isto também os fragiliza psicologicamente.

Mesmo assim, os professores, mais que tudo, devem ter vocação. Não só nas áreas académicas que escolheram para investigar e ensinar, mas na própria docência. Uma coisa é saber, outra é transmitir esse saber. Mas como é que se consegue aferir isto? Não é praticável, ainda que desejável… Certamente que todos tivemos (poucos) professores que nos inspiraram e tantos outros que nos foram indiferentes. Isto também contribui para o problema. Um professor que seja uma referência, provavelmente não suscita nos alunos ou encarregados de educação sentimentos que levem a situações extremas. Que são sempre condenáveis, naturalmente.

Existe ainda um espaço que as escolas podem ocupar. Para além da formação curricular dos alunos, porque não utilizar parte da diferença entre o horário normal da função pública e o de professor, para a orientação de projectos de formação cultural?

É aqui que as escolas, com o apoio dos Ministérios da Educação e da Cultura, juntamente com as autarquias, podem desempenhar um papel central no desenvolvimento integrado dos jovens portugueses. Os tais que constantemente são chamados de futuro… e que futuro!

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