2007-09-29

Serviço Público
Publicado no Região Sul

“Cada português paga 36 euros mensais à RTP”. Esta conta, mal ou bem feita pelo DN, é preocupante.

O custo de uma ligação por cabo, com 40 canais, acesso à Internet e voz é mais baixo que o contributo (médio), indicado em cima, para o serviço público de televisão. Bem sei que não podemos comparar as situações, mas enfim… se analisarmos o custo/benefício das duas alternativas, caso pudéssemos optar por pagar uma em detrimento da outra, estou certo que a RTP acabava em pouco tempo…

O Estado assume um conjunto de actividades, concessiona outras e encontrou uma fórmula a que chamou de “indemnização compensatória” para financiar empresas públicas com prejuízos como a RTP.

Quantas vezes o tão eufemisticamente designado “serviço público” disfarça empregos de políticos, quer sejam retirados, em stand-by ou como compensação; encobre jogos de poder, de controlo sobre o que se diz e aquilo que se quer que diga, no caso das empresas de comunicação social. A qualidade e o conteúdo formal deste “serviço” afastam-se dos objectivos que devem nortear a catalogação com este insigne rótulo. No caso da televisão pública, encontro uma degeneração da grelha, uma subjugação da sua qualidade (sim! o que é a qualidade e quem é que a classifica, mas isso dava outro texto) em detrimento das receitas; os formatos são semelhantes ao que é feito nos canais ditos comerciais. Provavelmente o 2.º canal desempenha aqui algo próximo do que deveria ser o serviço público da RTP, no seu conjunto.

Não é pelo prejuízo que esta empresa apresenta que considero vantajoso a venda do canal principal. Ou do segundo. Não sei se existe mercado para três canais completamente privados, mas isso não deve ser, genericamente, uma preocupação do Estado. Um canal estatal, sem publicidade, com produção nacional, com uma estratégia clara de ditar os parâmetros em áreas como os formatos noticiosos, com mecanismos que garantam a isenção e a excelência jornalística, deveria ser a aspiração de quem consome os “meus” 36 Euros mensais. Gostaria de pensar que são “pagos” com algum propósito.

É interessante que um dos factores altamente diferenciadores de produzir formatos noticiosos de base regional, onde existe uma delegação da estação pública, foi abandonado.

Não sei como funciona noutros Países europeus, mas em Portugal, a tendência é que o poder político tente, de alguma forma, mais directa, ou mais dissimulada, exercer a sua influência. A cobertura que a RTP fez das últimas acções de marketing do Governo é um exemplo clássico. Nada é sem querer. Não existe lugar para a inocência.

O Algarve, por exemplo, tem jornalistas, operadores de câmara, etc. Qual o resultado desse esforço financeiro? Retirando as filmagens de praias durante o período balnear e o caso mediático que temos presentemente entre mãos, sente-se o seu trabalho? Deixam, em Lisboa, que se sinta o seu trabalho? Existem critérios de relevância das matérias, mas será que não existem notícias para dar que não estejam relacionadas com um caso de eventual desaparecimento de uma criança inglesa? Por muito apaixonante que possa parecer ao português médio, ávido de intriga e sangue! Não deve ser a responsabilidade da direcção de informação servir o tal interesse público e credibilizar o mercado? Deixem para os privados esse pranto… Lá estão os “meus” 36 Euros a voar…

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