2007-11-15

“O Homem é do tamanho do seu sonho” (Fernando Pessoa)
Publicado no Jornal do Algarve

Todos nós possuímos competências que, com maior ou menor expressão, nos diferenciam dos outros. Não de todos, mas permite-nos um espaço onde podemos apostar. Digamos que existe uma propensão individual para determinadas áreas profissionais, que abrem portas à especialização, nomeadamente se beneficiarmos de formação, seja de que tipo for. A dificuldade está, muitas vezes, em saber qual! Saber o que nos distingue! Conhecer o que nos torna diferentes numa organização! Onde podemos apostar? Onde é que o investimento em formação é mais eficiente? Em que matéria o nosso investimento (quer seja de tempo, quer seja de dinheiro, mas sempre de esforço) terá maior probabilidade de sucesso?

Não se trata de investir naquilo que mais gostamos. Conseguir uma diferenciação profissional é tarefa difícil, mas não impossível. Importa conhecermo-nos bem, designadamente os nossos limites, gostos, interesses, aptidões. A confiança é fundamental, assim como um espírito aberto a novos conhecimentos. Aprender pode não ser apenas estudar; não devemos compartimentar o conhecimento, restringindo-o apenas ao saber universitário, tão pouco à sensaborona formação profissional. Aprender é conhecer, viajar, mudar, sempre tentando absorver e perceber aquilo que até esse ponto nos passou ao lado. Aprender é viver

O ensino oficial não está motivado para perceber o perfil específico e individual, que podia permitir desde cedo a orientação de cada um para um conjunto de questões: (1) o que é que quer fazer, (2) que apetências demonstra ou possui e (3) como está o mercado de trabalho e quais as perspectivas no médio e longo prazo. Ao invés disto, o ensino está vocacionado para a massificação do saber, bem compartimentado, que depois vai cuspindo “cá para fora”, certificando que sabemos “ler” e “contar”.

A criação de grupos com interesses específicos, como os clubes e ateliers temáticos são um exemplo da tentativa de dar uma formação diferenciada, ainda meramente complementar, mas é pouco. E o muito é inatingível, já que é utópico. Devemos ficar no meio destes. Uma escola que conheça os seus “clientes” e decida fazer concorrência neste mercado quase monopolista, que nem sequer entre escolas públicas permite concorrência, a não ser com o expediente da morada de um “amigo”.

Por vários motivos, um dos grandes investimentos que o Estado pode fazer é na Educação. Mas só não chega. É imprescindível que mantenha coerentes e estáveis as políticas educativas, os modelos de ensino e melhore a formação de professores e a sua certificação. É certo que o saber de hoje está nas antípodas do de ontem. Mas não nos serve (digo eu!), enquanto cidadãos e, fundamentalmente, como contribuintes, as mudanças de rumo que cada Governo tenta. Obviamente convicto que está correcto, que neste ponto nem quero questionar, pois seria desonesto da minha parte. Pena é que essa convicção muda invariavelmente com a dinâmica dos escândalos, das estratégias políticas, das sondagens eleitorais ou dos ciclos eleitorais.

Assim, em resumo, ensinar a aprender é algo que nos tem feito falta.

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