2006-03-22

Geo-quê?
Publicado no Região Sul

O segmento “turismo de natureza” vai ganhando alguma expressão, designadamente no Algarve e Alentejo. Quem faz percursos e trilhos no interior do Algarve, já viu simpáticos casais de estrangeiros a caminhar em locais que não “lembram ao diabo”. Aqueles aventureiros, maioritariamente de meia ou terceira idade, lançam-se na aventura de descobrir um território diferente, por montes e vales. Muitas vezes sem receptor GPS, bússola ou mapas.

O Algarve tem condições únicas para desenvolver este segmento. Tem, acima de tudo, oportunidade e potenciais visitantes. Os milhares de turistas que visitam a região ao longo do ano são um importante recurso. Até hoje, a praia tem sido a grande aposta, massificando-a. Mas não chega. É necessário, por exemplo, permitir o desenvolvimento de pontos de atracção nos territórios de baixa densidade, designadamente na costa vicentina, na serra de Monchique, no barrocal, na serra do Caldeirão e no nordeste algarvio e baixo Guadiana.

Tem sido feito algum investimento público, designadamente nos acessos viários, que aproximaram as localidades rurais do Algarve aos principais centros urbanos. Falta o percurso inverso. Levar os turistas ao Algarve rural. Para esse esforço gerar resultados sustentáveis, importa definir, no plano político, um enquadramento facilitador (e atractivo) ao investimento privado.

Algumas entidades, como a Globalgarve, congregaram esforços no sentido da promoção deste território. O projecto das Iniciativas de Promoção do Mundo Rural Algarvio permitiu sentar à mesa as principais entidades públicas com responsabilidades na dinamização e planeamento da região. Algo visionário nos objectivos propostos, foi sem dúvida uma abordagem que poderia ter tido mais sucesso, se existisse, nesta área, interesses privados com expressão e organizados entre si.

Um primeiro problema: a dificuldade na aprovação de alojamentos turísticos, sua localização e implantação. As limitações impostas pela Rede Natura 2000, Reserva Ecológica Nacional, Reserva Agrícola Nacional e Parques Naturais (PN Costa Vicentina e Sudoeste Alentejano, PN Ria Formosa e RN Sapal de Castro Marim e Vila Real de Santo António) dificultam a criação deste cluster. Não preconizo uma ocupação agressiva, antes pelo contrário. É necessário encontrar um equilíbrio entre a biodiversidade e as características diferenciadoras presentes nestes santuários naturais, com condições mínimas para o seu usufruto. Destaquei o alojamento, mas de baixa volumetria e impacto no meio, adequado ao espaço e respeitando o património arquitectónico rural – que é um repositório da nossa identidade regional.

Uma necessidade subsequente: a restauração e a animação do território. O crescimento turístico deste Algarve vai exigir mais oferta de restauração tradicional e de animação turística. Desde logo, percursos pedestres e motorizados de impacto controlado, assim como outras actividades de lazer, desporto e aventura.

Por falar neste tema, recentemente tomei conhecimento de uma actividade muito interessante para quem gosta do contacto com a natureza. Em 2000, com o fim da degradação do sinal do GPS, que os Estados Unidos mantinham por motivos militares, nasceu o Geocaching. O conceito não é novo: um tesouro escondido e vontade de o descobrir; procura-se o local onde o tesouro, denominado cache (caixa hermética com alguns objectos de baixo valor, registos de quem colocou e encontrou, etc.), foi escondido e georeferenciado num site internacional [ou nacional]. Com a ajuda de cartografia militar (ou outra), com um bastão de caminhar numa mão e o receptor GPS na outra, reúnem-se os condimentos para uma aventura por entre mato, silvas, riachos e pedras (ou em cidades; Nova Iorque tem mais de 5.400 caches escondidos). Existem actualmente mais de 243.000 caches escondidos em 221 Países (mais de 500 em Portugal), alguns colocados por Geocachers estrangeiros, quando em visita ao nosso País.

Existem muitas formas de diversificar o produto base do Algarve, nichos desinteressantes se os considerarmos separadamente, mas quando agrupados podem representar a revitalização de territórios em desertificação, com os perigos associados, como o abandono dos solos, o aumento do risco de incêndios, a falta de apoio das populações mais envelhecidas… Que pena tenho, cada vez que vejo um moinho em ruínas, uma casa isolada no meio de um monte, com o telhado em baixo, ou património de importância arqueológica, romano ou árabe, ao abandono...

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