2006-10-09

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Publicado no Jornal do Algarve

A morte encravada e fundida no aço do WTC será para sempre recordada como o epitáfio de um estilo de vida que tem caracterizado a tradicional sociedade Ocidental, alicerçada na liberdade de expressão, de movimento e, acima de tudo, na assunção de que o “inimigo” está (e ficará) além fronteiras, a uma distância segura dos contribuintes, à distância de uma simples mudança de canal de televisão.

As sociedades Ocidentais deixaram de ficar no estado de aborrecimento absoluto e impoluto. Quem sabe se a próxima bomba, o próximo avião, o próximo agente químico, o próximo vírus, não está à nossa porta, na nossa esquina, no nosso quintal!

A relevância dos ataques desferidos com três aviões a 9 de Setembro de 2001, que destruíram o emblemático WTC e uma parte do Pentágono, não esteve nos milhares de mortos e de prejuízos que geraram. Esteve essencialmente na mensagem de que uma pequena organização tem capacidade de infligir destruição no coração do poder económico e militar da principal super potência… terá escapado, por alguma sorte, o poder político… se é que foi, de facto poupado! Foram castigados os alicerces fundamentais e basilares da sociedade que conhecemos.

Não acredito que estejamos a entrar numa guerra religiosa. Qualquer confissão terá como base primordial a paz e o entendimento, até a tolerância. O fanatismo não representa as religiões, nem lhes deverá ser associado. Pode ser gerado, por princípio, apoiado no património da fé, mas depressa se autonomiza e a renega, pela destruição.

O terrorismo não se combate com respostas militares convencionais. Não existe um território de origem, com uma base de sustentação política. Não é possível “punir” um País; pode haver necessidade política de o fazer, mas nunca trará resultados práticos. Erradica-se o terrorismo com desenvolvimento social, político e económico. Ora isso está bastante distante no Médio Oriente, ou do mundo Islâmico.

Revi nestes últimos dias algumas imagens aterradoras, como a centena de pessoas que optou pelo suicídio, ante a perspectiva de uma morte lenta. Deixou-me na altura, como hoje, singelamente horrorizado. Essa decisão, se nela reflectirmos, simbolizou o fim da esperança de salvação. Entraram no vazio, ainda em vida. Do modo mais duro!

Sem remédios na gaveta, esta doença do século XXI requer doses industriais de informação e da sua partilha, de pesquisa, de construção de cenários e planeamento de medidas para evitar ou conter riscos. Em todos os Países, os serviços secretos, de informação e segurança, enfim, a “espionagem”, que regrediu naturalmente com o fim da Guerra-fria, voltou a estar na ordem do dia e dos orçamentos de Governo. Muito mais que exércitos regulares, preparados para conflitos convencionais, os Países vão apostar na obtenção de informação e em unidades de elite. As organizações terroristas não serão vencidas com o envio de milhares de soldados para o terreno, mas com o investimento em tecnologia, em “inteligência” e na obtenção de informação pertinente.

Este é o desafio que nos foi lançado. Este é o caminho que vamos percorrer.

Muito ficou por responder sobre os ataques de 11 de Setembro, algumas coincidências e teorias da conspiração. Mas ficará sempre uma questão no ar: qual será o próximo alvo?

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