Os “grandes portugueses” ou saber empreender
Publicado no Jornal do Algarve
A RTP lançou um formato interessante. Eleger o “maior” português de todos os tempos. Este “eleger” está constrito à opinião daqueles que o quiserem fazer, o que é redutor, mas, convenhamos, uma das poucas opções que uma estação de televisão tem para chegar a um resultado. Outra hipótese seria comissionar um painel de personalidades nos vários campos profissionais, mas isso não faria render o programa, nem permitiria ganhar grande audiência.
É claro que vamos ter várias “personagens” entre as personalidades. Mas enfim, opinião é isso mesmo.
Vão ser nomeados centenas ou milhares de portugueses. Muitos com méritos reconhecidos. Vai ser uma reflexão nacional. Assim, de repente, vamo-nos lembrar de todas as conquistas e feitos políticos, militares, na geografia e astronomia, na navegação, na medicina, nas ciências, na cultura e por aí fora. A RTP vai fazer serviço público.
Já fiz a minha opção. Votei em D. Afonso Henriques, o primeiro Rei de Portugal. A forma como o escolhi foi bastante simples e até superficial. De todos os possíveis “candidatos”, qual deles, se não tivesse existido, alteraria de forma mais profunda o curso da nossa história? D. Afonso, filho de Henrique, I de Portugal. Sem ele, pura e simplesmente não teríamos nacionalidade. O que não significa que, mais tarde, outro não tivesse feito por isso. Mas a história não é a que queremos, mas a que temos.
Existem outros que deram um contributo indelével e que, por isso, devem ficar para sempre na nossa memória colectiva. Desde D. João II, que deu as bases ao seu primo e sucessor no trono, D. Manuel I, para empreender os Descobrimentos Portugueses. Entre tantos outros, destaco também o Infante D. Henrique, Vasco da Gama, Afonso de Albuquerque. Um nome incontornável é Sebastião José de Carvalho e Melo, Conde de Oeiras e, mais tarde, quase no fim da sua vida, Marquês de Pombal.
Para o bem e para o mal, António de Oliveira Salazar, enquanto Ministro das Finanças ou Marcello Caetano, na qualidade de Professor e autor de Direito, merecem destaque. Também o General sem medo, Humberto Delgado, pela coragem e pelo desafio ao regime ditatorial, ou pela esperança, ainda que efémera, que representou.
O pós-25 de Abril não permite distanciamento, essencial para uma escolha sem tabus, limitações de ordem política ou pessoal. Por esse motivo, fico-me cronologicamente em Salgueiro Maia, pela coragem e pela humildade que teve no cumprimento do seu dever, logo saindo de cena, morrendo quase no esquecimento. Será certamente reabilitado no futuro, como tantos outros grandes portugueses.
Todos os nomes que referi, de tantos outros que poderiam ali constar, foram grandes, porque grandes foram os que lhes seguiram, os que os apoiaram ou simplesmente desafiaram e inspiraram.
A reflexão que fiz sobre este exercício de escolha dos “grandes portugueses”, fez-me recordar a falta de visão e o desinvestimento na Educação e na Formação Profissional. A capacidade de empreender que os portugueses demonstraram no último milénio quedou-se e entrou na “bruma da memória”, transformando-se numa espécie de mito, confortável e saudosista. É uma característica que vem sendo enterrada por toneladas de Euros de subsídios esbanjados. Na falta de um Ensino que acorde empreendedores, que os motive, que os molde e dê ferramentas para que, no futuro, possamos ser novamente grandes. Resta-nos a submissão metafórica da cauda da Europa. Provavelmente fica-nos bem.
Mas poderia ser pior. Muito pior. Para um País que saiu de uma ditadura que diluiu, condicionou e subdesenvolveu, durante décadas, o tecido produtivo, designadamente industrial, que não acompanhou o desenvolvimento tecnológico, que não apostou na formação básica dos recursos humanos, que não os preparou para o mercado de “aquém e além-mar” ou não soube perceber o mundo, o mercado global e até o “império”, como outros fizeram. Sobrevivemos a isto. Ultrapassar vai levar mais que uma geração!
2006-10-26
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