2006-10-23

Recordei-me, nem sei bem porquê, de uma conversa que tive há uns tempos com um destacado comunista português. Falava-me da sua intervenção na clandestinidade, daquela parte que não é falada, do quotidiano e da vida espartana que levava, das “casas” por que ia passando, do perigo e ansiedade a que estava sujeito… enfim, da difícil vida que levou até ao 25 de Abril de 1974 e, depois disso, as melhorias significativas que viu nascer no País e algumas que viu morrer.

Escrevi um texto na semana passada, que só será publicado nesta, sobre (entre outras coisas) os grandes portugueses. Esqueci-me, não intencionalmente, de Álvaro Cunhal. Não referenciei este grande português. Ainda que não tenha sabido evoluir o PCP no pós-25 de Abril, faço-lhe justiça pelo seu contributo na organização e acção anti-fascista. Até porque é incontornável, não só como “resistente”, mas como artista, designadamente no desenho e nas letras.

Com este quadro de fundo, pensei também que o tempo acaba irremediavelmente por provocar evoluções... e erosões. Não somos hoje o mesmo Portugal de 1500, nem o de 1933 ou o de 1974 (ou 1975). Provavelmente muito distante daquilo que seremos em 2020.

Também as organizações são, no fundo, reflexo de quem, num dado momento, as representa. É indissociável o PCP de Álvaro Cunhal, o PPD de Sá Carneiro, o PSD de Cavaco Silva, o CDS de Amaro da Costa ou até Freitas do Amaral, assim como o PS de Mário Soares, o PPM de Gonçalo Ribeiro Telles, o PP de Paulo Portas, o Bloco de Louça, o PCTP/ MRPP de Arnaldo Matos ou de Garcia Pereira…

Esta lenga-lenga tem um propósito: para além de repor, ainda que antecipadamente, a justiça a “Manuel Tiago”, servir para relembrar que as organizações não são boas nem más. Depende de que as lidera. É, de resto, assim no resto… ou seja, nos governos, nos sindicatos, nos partidos políticos, nas organizações sem fins lucrativos, nas empresas, nos clubes de futebol, nas ordens e associações profissionais…

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