É a cultura…
Publicado no Região Sul
Porque motivo estará a cultura quase sempre associada a subsídios públicos? Qual a razão que leva a que determinados segmentos da nossa sociedade considerem contra natura a cultura ser um negócio rentável, gerador de receitas e de impostos?
Sou consumidor de cultura, da subsidiada e da outra. Pago os meus impostos, por isso, considero-me com autoridade (moral) suficiente para discorrer algumas críticas, mas sobretudo apontar evidências…
Os poderes públicos, ou seja, aqueles que nos representam, aplicam os nossos impostos em infra-estruturas, na promoção de eventos, até nas companhias e nos espectáculos.
Mas nem sempre assim é. Estalou no Porto mais um conflito no seguimento da selecção da empresa de Filipe La Féria para a gestão do Rivoli durante quatro anos. Ouvia as declarações da representante de um dos concorrentes que perdeu o concurso, que apoiam a crítica no aumento do preço dos bilhetes, com o subsequente fim dos bilhetes subsidiados, e de alguma diversidade cultural que se vai perder. Posso entender o último motivo, desde que não signifique apoiar cegamente a Cultura que ninguém quer ver, que não enche (ou preenche minimamente) salas e serve apenas alguns, nomeadamente quem as produz, encena e executa!
Considero todavia uma enormidade criticar a escolha deste empresário, que já provou estar no mercado por direito e mérito próprios, pelo provável aumento do custo dos bilhetes! Especialmente quando sabemos que as receitas de bilheteira do Rivoli cobrem tão pouco como 6% dos seus custos!
Na nossa região também existem companhias de teatro, orquestra e um sem número de peças, concertos e tantos outros eventos onde as Câmaras Municipais e outras entidades públicas têm colocado dinheiro, condições, facilidades e outras formas de apoio. Não é que esteja contra, apenas penso que existem áreas mais indicados para investimento público, desde logo nas infra-estruturas e na subvenção de Cultura às novas gerações, criando-lhes apetência e gosto, nos géneros mais variados, estimulando e envolvendo os mais jovens. Estimular também a aprendizagem daquilo que de mais básico ou elaborado é transmitido por esta via, qualquer que seja a forma de arte. No fundo dar a oportunidade, àqueles a que chamamos futuro, de conhecer, experimentar e partilhar os legados plásticos, populares, eruditos, simples ou complexos. É a nossa Cultura, ou a dos outros.
Por isto, por tantos outros motivos, investir deve significar isso mesmo. Retirar rendimento, lucro. Seja ele a atracção de pessoas a espaços desertificados, como as baixas das cidades, ou participar na educação daqueles porque neste momento estamos a trabalhar, a produzir, a pensar, a planear, a executar. Mas sem malbaratar os parcos recursos. É necessário uma estratégia. Tem faltado isso! Só assim perceberemos a motivação do subsídio. Só assim pode ser valorizado. Até porque subsídio está longe de significar “esmola”.
2006-12-29
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