Dinheiro fácil
Publicado no Região Sul
Aproximamo-nos da altura do ano em que nem só os consumidores compulsivos e os menos moderados descarregam as contas bancárias como se não existisse amanhã.
Neste período natalício, os consumidores são (somos) impactados com muita informação, tantos produtos, inúmeras novidades, algumas raridades e pequenas preciosidades. Tudo para suprir a necessidade suprema de oferecer.
Nada tenho contra o consumo, antes pelo contrário. É um dos motores de qualquer economia, desde que objectivo, informado e dentro dos limites da carteira de cada um. Parece-me um conceito relativamente simples. Mas não é.
Os Portugueses recorrem cada vez mais ao crédito ao consumo, muitas vezes acima da capacidade de endividamento. Isto é de certa forma preocupante. Mas só de certa forma. Tenho um amigo que me chama sempre à atenção para a economia paralela que grassa neste País. Biliões de Euros que circulam por aí, que escapam ao Fisco, que elevam em termos reais a capacidade aquisitiva de muitos portugueses. Podemos explicar o aumento da venda de carros topo-de-gama, ou de condomínios de luxo, porque existe um determinado grupo com alto poder aquisitivo, mas é difícil explicar como foi possível alterar radicalmente o nosso parque automóvel em menos de 10/ 15 anos. Podia recuar mais uma década e aí seria abissal! Ou como foi possível sustentar a subida dos preços do imobiliário nos últimos anos. Hoje compra-se um T3 pelo preço de uma moradia na década de 90. O rendimento das famílias subiu assim tanto?
E fomos a economia que menos cresceu nos últimos anos. Seremos certamente a economia que menos crescerá nos próximos.
Podem tentar justificar o consumo com o recurso ao crédito, mas de facto, para ter crédito, o banco estuda o cliente, atribui-lhe um rating, que não é mais do que avaliar a probabilidade de incumprimento de cada um. Em resumo, a garantia da boa cobrança dos juros e do capital.
Ora aqui entra outra noção interessante: a nossa banca é das mais eficientes ao nível europeu. O crédito mal parado embora a crescer, está garantido e controlado. Depois das sociedades financeiras de aquisições a crédito, apareceram as empresas de recuperação de créditos. Parece pois que estamos a entrar num cerco. Mas se olharmos para os relatórios de contas dos bancos, os seus lucros crescem todos os anos. Bem sei que não posso seguir esta linha de raciocínio minimalista, pois a “coisa” é mais complicada que isto, mas estão reunidas incongruências suficientes.
2006-12-01
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