2007-05-06

Só os loucos não aprendem*
Publicado no Região Sul

Comemoramos o 25 de Abril de 1974; dia que rompeu com os abusos sociais, as limitações económicas e os constrangimentos ideológicos. A falta de liberdade, em resumo e como mote. Acabou com os presos políticos, com o abuso do poder ditatorial, com a DGS. Enfim, Portugal saiu da triste letargia cinzenta em que se encontrava há quase meio século e rumou para um novo mundo. Do Estado Novo para um novo Estado. Essa era a esperança.

Este novo Estado foi feito como foi possível, com os limites que os tempos quentes impuseram. Construíram uma constituição de base socialista, depurada depois nas revisões subsequentes. Nacionalizaram sem critério nem estratégia. Insustentável ou não, abandonaram as colónias africanas, permitindo, por negligência, a tomada do poder por regimes totalitários. Ainda hoje pagam por isso.

Sou um dos que nasceu em 1974, já em democracia. Faz toda a diferença e permite escrever sem medo ou complacência seja por quem, ou pelo que for. Mas também sem a referência (ou experiência) da falta de liberdade. Esta é, aliás, a realidade de uma parte importante da população activa, naturalmente em crescimento, que em poucas décadas eclipsará a que viveu a ditadura! Foi pela falta de esforço e visão das políticas de educação dos sucessivos governos, que mantiveram disciplinas (ainda que opcionais) de educação religiosa e moral, em vez da verdadeira educação cívica, cidadania e de ética. Como será o 25 de Abril de 2050?

O Presidente da República apelou aos jovens para participarem na vida democrática. Com as críticas da Esquerda e os aplausos da Direita, fico no meio. Ou seja, apelar ao desenvolvimento da cidadania é fundamental. Se é apenas para votar, é limitativo. Se é para integrarem partidos, listas, movimentos, serem eleitos, participarem com opinião, com trabalho, com crescimento como profissionais e actores sociais, nesse caso é uma ideia para debate. Mas será sempre retórico… eu pelo menos já não me iludo. Ainda que a limitação de mandatos possa indirectamente facilitar… Será?

Passado que foi um terço de século sobre a revolução, que País temos?

Temos políticos eleitos (e não só) constituídos arguidos por abuso de poder, corrupção, entre outros crimes. Muitos deles encaminhados para a prescrição. Temos um País politicamente elitista, baseado quase que exclusivamente na partidocracia. Processos judiciais de elevado perfil e mediatismo, que levam anos nos tribunais e nas nossas televisões, anestesiando-nos. Um País onde o holocausto urbanístico foi permitido e parece ser ainda bem tolerado. Onde é mais fácil cometer um crime, ou uma contra-ordenação grave, do que efectivamente ser condenado. Onde fugir aos impostos é um passatempo nacional.

Mas esta é apenas uma das verdades. Também vivemos mais anos, com melhor saúde, mais esperança de vida à nascença, melhores condições económicas e de acesso aos bens de consumo e investimento. Viajamos mais. Lemos mais. Escrevemos muito mais (melhor ou pior). Consumimos avidamente informação e contamos com uma comunicação social presente e atenta. Existe desemprego, mas existe segurança social, reformas, subsídios de desemprego. Existem também 350 Centros de Saúde, com 2000 extensões; quase 90 hospitais. Somos hoje modernos e cosmopolitas como nunca fomos. Temos acesso à cultura em todas as regiões. Não apenas em Lisboa e Porto. Podemos escolhemos onde viver, o que fazer, a que horas e onde.

Podemos continuar a maldizer Portugal. Podemos apontar o dedo apenas para o lado mais negro. Mas existem sempre dois lados. Escolha o seu. Decida. Podemos contribuir para a mudança e melhoria. Este é um dos deveres de cidadania. Este também é um desígnio de “Abril”. Escolha o seu Portugal!

* de uma letra de Zeca Afonso

1 comentário:

Mano João disse...

Pois, a diferença entre o meio copo cheio e o meio copo vazio! Efectivamente, temos o bom e o mau, portugal será sempre aquilo que somos e tenho a certeza que caminhamos para melhor.