2007-07-19

Com a costa às costas!
Publicado no Magazine do Algarve

Existe uma linha que divide o radicalismo ambiental e uma orientação ou consciência de que devemos preservar o ambiente, como forma de sustentar a vida das populações, dos ecossistemas, enfim daqueles que partilham este planeta.

Sou da opinião que devemos procurar minimizar, dentro daquilo que nos for possível e razoável, os impactos negativos que diariamente infligimos no ambiente. Pequenas atitudes podem significar pouco; se uma maioria, ou pelo menos um grupo razoável, introduzir alguma mudança nos hábitos, acções por vezes tão simples, podemos contribuir para deixar às próximas gerações um planeta mais equilibrado e sustentado. No mínimo, menos estragado.

Diariamente são infligidos danos no ambiente. É certo que o planeta Terra tem demonstrado, nos milhões de anos de existência, uma forte personalidade. Mas nunca foi, como nas últimas décadas, tão desrespeitado, desconsiderado e violentado.

Há milhões de anos que um número incontável de espécies desapareceram, outro tanto apareceu ou evoluiu. As alterações climatéricas têm provocado problemas a espécies, às suas fontes de alimento, até à capacidade de adaptação. Os dinossauros, por exemplo, foram extintos. Não é de hoje… o planeta sempre esteve em conflito e em adaptação.

Mas existem situações concretas que me preocupam, quer seja como cidadão que vive no litoral, quer como contribuinte.

Portugal perdeu uma percentagem considerável da costa nos últimos milénios. É tremendo, mas a erosão é um processo natural que, infelizmente, está a ser descompensado pela nossa acção, pelas nossas necessidades e ambições. A construção de barragens, a exploração de areias no leito dos rios, os esporões, pontões, barras que foram construídos vieram aumentar o problema, especialmente porque fomo-nos concentrando no litoral e aí investindo.

Como contribuinte, preocupo-me com os milhões que foram e são investidos para salvar, por exemplo, um parque de campismo, para “meia dúzia” de pessoas poderem ter a sua “residência” de férias. E não é mais que isso, especialmente se considerarmos que está implantado numa zona que deveria ter sido protegida da ocupação, de qualquer tido de ocupação. Depois vem a exposição na comunicação social e, de repente, solidarizamo-nos com aquelas pessoas, que classificam de incompetentes as instituições responsáveis pela orla costeira. Mas ninguém nos explicou que o custo da reposição de areias é muito acima daquilo que é razoável. Não se trata de uma estância de turismo de qualidade, que gera receita turística e atrai outros investimentos relevantes. Nada disso: é uma espécie de bairro para férias de residentes em Lisboa, que por lá veraneiam. Se analisarmos o custo-benefício, provavelmente ficaríamos chocados.

No Algarve, a costa (natural) tem um papel determinante, essencial à manutenção da vida como a conhecemos, directa e indirectamente é dela que vivemos. Da pesca ao turismo. Com óbvios impactos nacionais. Podemos ser uma comunidade em vias de extinção, se não forem tomadas medidas contra o (aceleramento do) recuo da costa. Claro que o cenário é pessimista mas, ainda assim, preferia assistir à implementação de medidas preventivas, do que às de recurso ou contenção de prejuízos.

Que não haja dúvida: a destruição ou adulteração da costa significará o fim de milhões de receitas e de impostos. Será o fim do Algarve cosmopolita e urbano! Queremos assumir este custo? Assistir ao fim de praias, de falésias, da Ria Formosa, etc?

Proteger este Algarve, como o conhecemos, mesmo com alguns “crimes” urbanísticos, mais que uma necessidade ou uma estratégia de futuro, é uma responsabilidade!

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