2007-11-15

Tolerância Zero!
Publicado no Região Sul

Somos um país de brandos costumes. Fartamo-nos de ouvir, dizer e escrever esta frase. Mas cai-nos tão bem.

Não deixa de ser sintomática e bastante apropriada. Está-nos no sangue, que é como quem diz, no fundo, que somos mais ou menos aquilo que somos, sem querer ser mais e sem ser menos. Somos assim-assim.

Gritamos com o carro da frente por ter entrado na nossa faixa de rodagem e, logo a seguir, permitimo-nos isso mesmo, pois somos melhores condutores e sabemos o que estamos a fazer, ou simplesmente por distracção. Nunca assumida, obviamente! Se levarmos a tal buzinadela, aqui d’el Rei que é um filho d… de dois progenitores, sem dúvida respeitáveis, que souberam gerar e criar, quiçá a custo, tamanho alarve.

Acabo de chegar a casa vindo da Praia de Faro. Enquanto esperava que o semáforo me permitisse a entrada na “ilha”, reparei num cartaz informativo que proibia, entre outras coisas, o auto caravanismo. Depois de esperar por um carro que já tinha passado no vermelho (!), lá fiz aquela desculpa de ponte e dei com… não três, não quatro, não cinco (está quase), não seis, não sete (é agora), mas oito auto caravanas. Sim: oito. Mas podiam ser sete, duas ou uma. É proibido. Mesmo para aqueles que eventualmente não sabem ler, o sinal universal é inequívoco. É PROÍBIDO! E isto chateia-me por dois motivos. Primeiro porque existe naquela mesma ilha, assim como pelo Algarve inteiro, um parque de campismo. Basta para isso pagar e usufruir (legalmente) da simbiose entre a Ria Formosa e o Oceano Atlântico. O segundo motivo é muito mais prosaico: porque ninguém liga, especialmente as forças de segurança. Para isso, retirem o cartaz… é mais respeitável.

Os portugueses (lá estou eu a generalizar) têm uma relação de amor-ódio com as regras e as leis. Quando lhes serve são o melhor que há… nas restantes vezes são excessivas e quem as faz uns malandros. Claro que existem excepções. Mas que raio, a excepção não faz “as regras”!

Na zona onde resido estão a fazer umas obras na rede de água. Uma conduta por estrear, enterrada há alguns anos, está - só agora - a ser conectada. Há quase 2 meses que dura a obra. Esta consiste, essencialmente, em encontrar as várias subcondutas e ligá-las à tal que esteve morta e enterrada, embora por estrear. A piada é que durante umas semanas abriam e fechavam os mesmos buracos. Fazendo com que os utilizadores gastassem dezenas (ia escrever centenas mas pareceu-me um exagero) de litros por dia até conseguir que a mesma deixasse de parecer Coca-cola (eu provei e não era, tinha um pouco menos de gás!). Desta cor passava para outra, normal em Países do Terceiro Mundo e, finalmente, ficava com um aspecto moderadamente transparente, que é como quem diz, minimamente aceitável. Pelo menos um mês andei nisto. Agora está mais calmo. Abandonaram o trabalho, mas sem ficar acabado. Certamente vão voltar. Eventualmente. Um dia. Eu por cá os espero. Que remédio.

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