2005-01-20

A competitividade
publicado em Janeiro na
Magazine do Algarve

A competitividade tem sido apresentada como um objectivo estruturante para o nosso país, no entanto verifica-se que, embora identificada como um problema, ainda não saiu do plano político.

Portugal tem empresas de ponta, tem outras em áreas inovadoras, todavia, a grande maioria carece de formação, tanto ao nível dos “assalariados”, como dos “patrões”. Estes últimos, especificamente, em gestão de recursos humanos e, fundamentalmente, em planeamento e internacionalização (especialmente para a indústria, mas não só).

A competitividade portuguesa é genericamente considerada baixa, comparativamente com países onde os empresários investem, onde a gestão planeia e onde até os sindicatos desempenham um importante papel neste esforço.

Não quero com isto dizer que só nos resta resignar e deixar o país produtivo como está. Mas quero focar o grande défice tecnológico (i.e. equipamentos e novas tecnologias) existente hoje, que tende a crescer, contribuindo para os baixos níveis de produtividade actuais. Resta estudar quanto.

O tecido empresarial carece de mais tecnologia (e também I&D), de recursos humanos mais motivados e de um ambiente geral estável; um estado regulador, sem ser paternalista, e de instituições a funcionar de forma regular. Desde o governo, às suas repartições.

As micro e as pequenas e médias empresas, que representam a maioria do efectivo, são o motor de qualquer economia saudável. Aceito que estejam carecidas de recursos financeiros, mas é ao nível da gestão que o estado deve também procurar intervir.

Como?

Cada vez que o estado legisla mais férias (de 22 para 25), dias de formação obrigatórias (são 20, vão ser 35 horas por trabalhador e por ano) está a dizer que os empregadores deverão fazer um esforço acrescido. Quem paga estas medidas? As empresas, claro! Onde fica a produtividade? Na mesma... ou quase!

O estado deve ser fundamentalmente regulador e fiscalizador, deve sair do processo produtivo, mas já que oferece (com recursos que não são dele) mais regalias sociais, deve também exigir formação de empresários e impedir aqueles que levam insistentemente e regularmente empresas à falência, ou com resultados negativos anos a fio, de exercer a actividade. Isto é que é difícil...

Não é pelo aumento de férias ou ordenados que se induz produtividade. É interessante que se premeie com três dias de férias aqueles que não faltaram no ano anterior! Manter a assiduidade não será um dos deveres essenciais do contrato que liga um trabalhador a uma empresa? Sabe-se também que não se aumenta directamente a produtividade com o aumento do salário base. Apenas os incentivos dependentes da produção permitem gerar aumentos significativos e persistentes. Quantas empresas, com o recurso à distribuição de participações ou outros incentivos por objectivos cumpridos, conseguem elevar a produção para níveis bastante interessantes? Estas empresas estão por aí, basta um pouco de benchmark!

Não defendo o aumento da semana de trabalho, até concordo com a redução para as 35 horas. Mas que sejam de trabalho efectivo! Se ao empregador cabe cumprir as obrigações que tem para com o trabalhador, a este cabe trabalhar de forma racional, aproveitando cada minuto do tempo que está ao serviço da empresa. Produzir bem não é sinónimo de produzir muitas horas! Para conseguir aumentar a produtividade, é necessário saber gerir processos racionais de produção, motivar os recursos humanos, integrar e realizá-los e, sem esquecer, premiar quando possível esse esforço, nem que seja com um “muito bem”!

Já agora, não deveriam os aumentos discutidos em concertação social terem por base a produtividade de cada sector, ou mesmo empresa? Assim como os da administração pública? Vencimentos diferenciados para trabalhadores diferenciados. Esta é, na minha opinião, o princípio de qualquer política pró competitividade.
Desejos de um 2005 muito produtivo!

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