2005-08-24

Falta de Chá!
Publicado no Jornal do Algarve

A falta de água que grassa no país é preocupante. Até aqui, parece-me consensual.

Como o problema já atingiu proporções graves, foram lançadas campanhas de poupança. E bem! Somos impactados por estas campanhas de comunicação, co-financiadas pelos nossos impostos. Não duvido da bondade da atitude, da sua necessidade e das razões que justificam esta medida. Mas - há sempre um "mas" - e as roturas na rede pública que fazem com que 40% da água, tanto em alta, como em baixa pressão, seja desperdiçada, sem possibilidade de reutilização?

O cerne da questão é este. O estado descurou investimentos, não tem um sistema que fiscalize e actue sobre estas perdas, pelo que este esforço é fundamental, para que os cidadãos tenham consciência que todos estão a trabalhar com o mesmo objectivo, i.e., poupar água.

Gostaria de contar uma história. Verídica. Não concretizo o local, porque já foi resolvido, depois de alguns contactos, bastantes meses volvidos e milhares de metros cúbicos de água irremediavelmente perdida. Era uma vez duas roturas provocadas pela pressão da água sobre uma canalização pública velha e desgastada. Este foi o início de uma autêntica saga. Passou-se numa zona em que reiteradamente ocorrem roturas. No limite, encurtando o verbo, uma equipa municipal deslocou-se ao local, já no final do dia de trabalho, e tratou de reparar uma das fugas. Quando foram informados da outra, prontamente responderam que já eram 17 horas, pelo que ficava para o dia seguinte. Como tinham passados meses, pensei que em poucas horas o problema ficaria resolvido. Não ficou. Foram necessárias mais umas semanas e uns telefonemas, para resolverem definitivamente o problema. Claro que aqui tivemos dois problemas: a disponibilidade e o profissionalismo destas pessoas ser nulo e as centenas de litros de água que continuaram a perder-se.

Esta é, claro, mais uma das muitas histórias que todos os dias são contadas na comunicação social, nos cafés, enfim, pelo Portugal real.

A água é um bem precioso. Assim como os restantes recursos públicos, mas, uma vez mais, as instituições da República passam para a população o sentimento de culpa pelo desperdício, quando o Estado é muito mais responsável pelo estado a que chegamos.

Este ano, pelo menos até à estação das chuvas, o problema vai manter-se, depois, também. É necessário pensar que existem formas simples de poupar água. As piscinas municipais, por decisão na AMAL, já foram fechadas, mas os jardins públicos continuam a ser construídos com relva e flores que requeremmuita água, que não temos. Ah, isto leva-me a outra questão: será que os serviços municipais não sabem que regar o asfalto não o faz crescer? Quantos de nós não assistimos aos sistemas de rega mal regulados a molhar a estrada ao meio-dia. Será que ninguém lhes diz que a melhor altura para regar é de noite ou de madrugada.

Ao nível da concepção dos jardins, porque não utilizar árvores da região, que não precisam de rega, rodeadas por casca de pinheiro ou seixos de rio?

É necessário repensar toda uma política de investimentos em embelezamento e ajardinamento urbano, pouco sustentável em momentos de seca. Planear é ter visão.

Na parte que me toca, já desenvolvi um conjunto de medidas que me permitem reduzir os desperdícios.

Muitos só vão acordar para este problema quando faltar água para o café ou para o chá.

Jorge Lami Leal

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