2005-10-25

De novo os carros estacionados nos passeios

Definitivamente não se vislumbra uma mudança nos comportamentos das pessoas e das autoridades relativamente ao estacionamento cumpulsivo que se faz nos passeios de Faro. A ser verdade que o estacionamento do Largo do Mercado funciona com 20% da capacidade, que o da Pontinha tem apenas o primeiro piso a 80% (tem três) e que muitas vezes o do Largo de São Francisco se encontra a 60%, começa a ficar difícil de entender porque não actuam as autoridades em conformidade com a lei?!
Porque motivo não estão as pessoas dispostas a pagar para estacionar o carro nestes parques, e têm os cidadãos, idosos, crianças, carrinhos de bébe e tantos outros, de ser todos os dias violentados com custos evidentes para a mobilidade e qualidade de vida das pessoas?! Será que não foi ainda entendido que trazer o carro para dentro das cidades traz, entre outros, custos ambientais que se reflectem no dia à dia das populações? E há quem tenha o descaramento de apitar no passeio porque as pessoas não se desviam para o "carrinho" passar?! Haja decoro!
Faço também um apelo para que se comece a fazer e a implementar planeamento, com visão de longo prazo, nomeadamente ao nível do urbanismo, porque começa a ser inconcebível que nos dias de hoje seja possível continuar a construir prédios sem garagem, e com 3 amostras de árvore na sua frente.
Deixo aqui um artigo escrito em Dezembro de 2004 para o Magazine do Algarve com algumas propostas de medidas.
Os nossos passeios e os automóveis
A quantidade de automóveis que hoje em dia contornamos nos passeios das nossas cidades e outras povoações atingiu a meu ver o limite da razoabilidade. O estacionar das viaturas em cima do passeio deixou de ser algo com carácter de excepção, para ser um comportamento institucionalizado e aceite por todos, até pelas autoridades responsáveis pela manutenção da ordem pública, com a benevolência das autarquias. Esta questão, que é tão paradigmática da qualidade de vida dos cidadãos, não é, compreensivelmente, uma situação de fácil resolução, nem se reduz somente à falta de lugares de estacionamento. Estatísticas disponíveis dizem-nos que a taxa de motorização da nossa população (número de viaturas por habitante) está a aumentar mas não atingiu ainda a média europeia, o que poderá significar que não vamos ficar por aqui.

Uma rápida leitura feita sobre o investimento público português, e em especial das autarquias, em matérias relacionadas com a mobilidade, como por exemplo auto-estradas, alargamento de avenidas, parques de estacionamento, permite verificar que este anda a reboque dos acontecimentos, pelo que quando se acaba de fazer um estacionamento, já se deviam estar a fazer mais dois. No entanto o investimento feito nestas acessibilidades e no parqueamento também leva a que as pessoas sintam maior propensão em levar as suas viaturas para todo o lado, uma vez que se verifica uma melhoria das condições.

Estamos pois perante uma pescadinha de rabo na boca, o que significa que a solução não passa apenas pela construção de mais parques de estacionamento nos centros das cidades, mas também de parques de estacionamento dissuasores (na periferia), pela melhoria da qualidade de oferta em transporte público (com maior conforto e organização) e introdução de vias de trânsito reservado, introdução de portagens sobre o transporte individual (fazendo coincidir o custo médio sentido por cada viajante com o custo que a sua viagem provoca no sistema, investido as receitas dai provenientes no próprio sistema rodoviário) ao mesmo tempo que se penaliza o estacionamento no interior em detrimento dos situados à entrada das cidades, criando zonas só acessíveis a automóveis para residentes, divulgando programas de mobilidade junto de empresas e escolas, reforçando a segurança associada aos transportes públicos, e por aí fora. Um conjunto de soluções que são por demais conhecidas e estão identificadas por especialistas na matéria e que até é possível encontrar em muitos programas eleitorais, todavia com poucos resultados práticos.

Uma última palavra sobre este assunto para as pessoas e para uma mudança de atitude que é fundamental para que tudo isto se altere. A ideia de que hoje é possível ir de carro para todo o lado, como acontecia há uns anos atrás, e encontrar lugar à porta do nosso destino, é hoje mera utopia. Não só não é possível, como tem como consequência enormes custos ambientais. O nosso comodismo está a afectar a nossa qualidade de vida sem nos apercebermos, pois já nem conseguimos imaginar um passeio sem automóveis. Se todos contribuirmos talvez seja possível que num futuro próximo seja possível voltar a ver as crianças a brincar nos passeios em segurança.

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