2006-01-16

Sobre o post do Lami acerca dos candidatos.

Parabéns pela análise, amigo co-autor de blogue. Para um monárquico, que não passa cavaco às presidenciais está muito bem! (ainda me lembro de uma vez em que tive a ousadia de te convidar para uma acção de campanha presidencial...).


Deixa-me apenas complementar a análise com umas achegas:

Garcia Pereira: Ficou célebre uma sua frase na década de oitenta, "Cavaco Silva é um facista (sic) encapuçado!", para além de uma máxima que era, "a dívida externa não é para pagar!". Acho que estas frases resumem o seu pensamento político. Profissionalmente é não apenas um bom advogado laboral mas também criminal. Espero nunca precisar mas, seguramente gostaria de ter dinheiro para o contratar, se precisasse.
Sim, defensor dos operários mas cobrador de honorários como os burgueses!
De todo o modo, tinha-o por mais simpático. Cruzei-me ontem com ele junto à marina, aqui no Funchal e nem me dirigiu palavra. Nem a nenhum dos outros transeuntes. Que raio de campanha! Em compensação um dos dois (2!) acompanhantes que o seguiam, simpaticamente entregou-me um panfleto com a foto dele, cuja primeira frase é: "Portugal está doente!"
Need to say more?

Francisco Anacleto Louçã: Trabalha para um nicho de mercado e tem a inteligência suficiente de não sair dele. Poderia ser uma figura secundária no PS que o resultado seria o mesmo, ou seja, seria um deputado na AR, só que com muito menos visibilidade. Continuando a defender as causas dos charrados e dos inconscientes que usam o aborto como planeamento familiar tem muito mais impacto televisivo e pode aparentar manter a sua coerência.
A nova esquerda de que falas é a esquerda façonnable. Do género, estou cheio de pena do pobre desempregado que usa camisas de quinhentos paus da feira (ou, com sorte, a 5 euros na Modalfa), mas não dispenso a minha camisinha de vinte contos da marca da moda. Podia começar por dar o exemplo da partilha socialista e aproveitar os saldos do Pagapouco para renovar o vestuário e comprar umas 20 camisas para o povo, pelo preço de uma façonnable.


Jerónimo Sousa: Uma agradável Surpresa! Está longe da imagem de operário encarniçado que guardava dele da campanha de 95/96. Pelo contrário, apresenta-se cortez, educado, crítico mas com modos (apesar de representar o sector mais conservador e retrógado do PC). Uma verdadeira lição de estar na política, em especial ao senhor de idade que tem utilizado a postura inversa. Tem tido o cuidado de apenas bater em Sócrates e não em Soares, para que, caso haja segunda volta, o sapo não lhe custe tanto a engolir.

Manuel Alegre: Talvez a maior decepção da campanha. Prometia muito mas morreu na praia. As suas prestações televisivas nas entrevistas e nos debates foram desastrosas. Às tantas eram os outros literalmente a explicarem-lhe coisas que ele devia saber. Em política isso costuma ser letal, embora as sondagens o contradigam. Tem, de facto, bom aspecto. Simpatiza-se com a figura dele.
Agora, independente de quê, ou de quem? É militante há décadas do PS e concorreu à sua liderança contra o Sócrates (ou seja, quis ser primeiro-ministro antes de concorrer a presidente. É quase um "vai a todas"). É vice-presidente da Assembleia da República indicado pelo PS e não se lhe conhece outra profissão há mais de trinta anos que não seja de deputado pelo PS (para além de poeta, mas que não lhe enche os bolsos, certamente).

Mário Soares: Teve a lucidez em tempos de afastar uma hipotética terceira candidatura a Belém, alegando que seria uma "insensatez" e de apresentar Cavaco Silva como um "excelente candidato". Provavelmente a luz ter-se-à extinguido ou então perdeu a "sanidade".
De resto, aparenta ser um octogenário bonacheirão e amigo da malta. Um fixe.
Na realidade essa imagem é um mito. Lembremos apenas aquele relato do Vasco Pulido Valente
aqui neste blogue para confirmarmos que se trata de um ser egoísta, arrogante, manipulador e de mau perder. Falta-lhe perceber que a postura de ataque feroz e cego a Cavaco o está a prejudicar. Será que nem Sócrates lhe explica? Ou será que este candidato foi imposto a Sócrates pela malta do avental?

Cavaco Silva: É um verdadeiro case-study. É o campeão da anti-imagem. Não aparenta ser bonacheirão nem um "porreiraço". O seu discurso sai seco e desprovido de floreados. Vai sempre directo ao assunto e tem a mania de falar só de coisas sérias. Incapaz, em público, de um bom fait-divers que o povo adora e que faz as delícias da comunicação social. É tão chato que nem costuma aparecer nas revistas cor-de-rosa. Contudo, o seu curriculo governativo é único, diga-se o que se disser, e o povo, estupidamente, vota nele e parece confiar nele. Mesmo no auge da sua impopularidade obteve 46% dos votos contra Jorge Sampaio, quando 3 meses antes PSD e CDS obtiveram 43%.

Este povo é mesmo ingrato, pensará Soares na noite do dia 22!

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