2006-03-07

Uma no “cravo”

O sebastianismo está impregnado no nosso ADN. Até o meu corrector ortográfico reconhece a palavra. O Plano Tecnológico de Sócrates é apresentado como um factor decisivo do desenvolvimento e requalificação do tecido produtivo português e até de Portugal. Mas não é. Pelo menos não é a alavanca. Portugal tem que acertar os ponteiros na educação (ensino) e formação profissional. O problema de Portugal sempre foram os portugueses. As suas qualificações, a produtividade, a capacidade de empreender, de inovar...

Somos muito diferentes da Finlândia. Li algures que numa cafetaria universitária (penso) de um país nórdico, existia uma espécie de mealheiro, pois o empregado saia mais cedo sem fechar o bar. Os clientes serviam-se e, depois, escreviam num papel o que tinham consumido, colocando o dinheiro no mealheiro. Este texto também focava os dispensadores de jornais. Os americanos, por exemplo, colocam o dinheiro de um jornal na máquina, que abre, disponibilizando o lote de jornais. Embora apenas levem um. Seriam estes dois exemplos possíveis no nosso País? Pois é. Esta diferença é fundamental. Permite também justificar porque estamos assim. Desde sempre gastamos mais do que aquilo que produzimos. Desde o ouro às especiarias. Do know-how do corte de diamantes que perdemos quando expulsamos os judeus de Portugal. Das colónias africanas terem servido de caixote de lixo da nossa obsoleta produção industrial. Não quero fazer uma resenha histórica das oportunidades perdidas, mas somos hoje o resultado de tantas más opções... E continuamos. Actualmente, com aeroportos e TGV.

Plano Tecnológico sim, mas que o muito dinheiro desperdiçado no ensino e na formação profissional seja reequacionado. Falta-nos um ensino médio, profissionalizante. Acabamos com as escolas comerciais, industriais, enfim, o ensino técnico. Acabamos depois com o ensino politécnico. Ficamos com o universitário. Mas estamos a formar, em muitas áreas, licenciados para o desemprego. Não me preocupava muito se não pagasse impostos. Mas pago!


Outra na “ferradura”

A única forma de uma oposição ganhar espaço é apostar no caminho da credibilidade. Existem assuntos muito sérios como inverter a tendência do desemprego, o défice público e o desenvolvimento económico. Certo. Concordo! Não percebo, no entanto, em que é que este assunto está relacionado com a discussão do casamento homossexual. Será que a discussão (e respectiva construção legislativa) no parlamento retira espaço às políticas de desenvolvimento, normalmente protagonizado pelo Governo? Não me parece. É demagogia. Como também não me parece que seja um assunto do Bloco de Esquerda. Trata-se de dar liberdade de contratar (neste caso o casamento). Trata-se de libertar o Estado de uma das amarras da Igreja. Não é que o assunto seja assim tão urgente, não creio que se vão realizar assim tantos casamentos homossexuais. Mas por isso mesmo. Estamos a adiar uma liberdade simples. Cada um deve viver de acordo com as suas opções, desde que não colida com a dos restantes.

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