2006-05-03

A região, as ruínas e Deus
Publicado no Magazine do Algarve

O Algarve é uma região de grandes contrastes e assimetrias. É também umas das regiões mais aprazíveis de viver, não só pelo clima ameno ao longo do ano, como pelas acessibilidades, a oferta de espaços de lazer, de aventura, de desporto, de cultura… bom, aqui ainda estamos com algum défice, mas muito melhor que há 10 anos.

O investimento público que tem sido realizado no Algarve, permitiu transformar a maioria dos concelhos do distrito. Se considerarmos, por exemplo, o número de piscinas ou de campos de golfe como indicador de desenvolvimento, não está nada mau!

Mas não podemos. A região foi crescendo e apoiando o tecido económico numa monocultura – o turismo. Mais especificamente no subproduto “Sol e Praia”. A agricultura está praticamente abandonada, as pescas são apenas uma miragem de outrora, a indústria conserveira, embora apresente empresas com excelentes produtos, que apostaram na diversificação e na internacionalização, têm pouca expressão económica global, designadamente ao nível do emprego.

A País pouca atenção presta a esta região, a não ser no período balnear, quando o calor aperta e as praias douradas, recortadas por este espelho oceânico azul-turquesa, provocam uma atracção irresistível.

Existe um problema ao nível do emprego diferenciado. Por falta de dinamismo empresarial, apenas alguns sectores recrutam recursos humanos especializados, como a hotelaria. Depois existe a administração central e o poder local. Pouco mais. Pelo menos com expressão. No entanto, existem várias universidades, pública e privadas, que todos os anos debitam centenas de pessoas. Existe ainda uma escola hoteleira que forma profissionais, rapidamente absorvidos pelo mercado, ávido de pessoas com formação específica.

A hotelaria algarvia, independentemente de quem detém o seu capital, é uma das principais “relações públicas” do Algarve. Apesar disto, encontramos cada vez mais empregados que não falam convenientemente português (ou não falam de todo!), ou que servem sem simpatia, ou não têm simplesmente formação, pelo que o serviço decai e prejudica-nos a longo prazo. A isto gosto de chamar singelamente falta de visão estratégica. De quem contrata e de quem o permite. Já nem falo dos restaurantes que não apresentam ementas portuguesas, ou de anúncios apenas em inglês...

As entidades competentes nestas áreas, o legislador, e até as entidades reguladoras, consultivas e especialmente as representativas dos interesses do sector, deveriam exercer uma acção mais incisiva, no sentido de normalizar e aplicar a legislação que existe, que é suficiente. Refiro-me designadamente à formação mínima anual obrigatória, que não é cumprida muitas vezes. Enquanto os nossos empresários não perceberem que o contacto com o público, com os clientes, não for altamente diferenciado, não caminhamos no sentido da qualificação desta actividade e da própria imagem regional. Basta de amadores, venham os profissionais.

E chegamos a Deus. Mesmo para alguém como eu, ateu confesso, considero que Deus tem desempenhado um importante papel na economia regional. Refiro-me ao fluxo de turistas que rumam todos os anos à região, nas míni-férias do Natal ou da Páscoa. Não é displicente e estas pessoas são, cada vez mais, uma bolsa de oxigénio para o sector turístico.

Considero, no entanto, existir uma lacuna importante ao nível da interpretação e da pesquisa exaustiva dos recursos “utilizáveis” como chamariz da região. Nem me refiro da infra-estruturação de alguns pontos, que seria o passo seguinte, mas da criação de roteiros físicos (e não apenas escritos). “Vendem-se” hotéis, restaurantes, fins-de-semana com SPA… Mas, e o que fazer?

Quem é que sai dos gabinetes para, no terreno, verificar as condições dos percursos, dos locais de interesse histórico – e não me refiro aos projectos de simples iluminação de castelos, como o de Paderne, uma vergonha para a Nação, tratando-se de um dos castelos da bandeira nacional… reduzido a uma figura disforme de terra, modelada pelas chuvas e pela falta de visão…

Mas há mais. Ruínas romanas como as da Abicada, sem condições de observação e usufruto do local, ou o abandonado Castelo de Aljezur. O que anda o IPPAR a fazer…

Também o Forte de S. Luís de Almádena ou o Forte do Burgau, em ruínas e ao abandono… ou as ruínas romanas da Boca do Rio. Existe também uma estação arqueológica na Praia da Luz, tentem visitar! Muito mais existe por recuperar ou tornar visitável, do Guadiana à Costa Vicentina!

E, para terminar, onde anda a nova sinalização turística e rodoviária do Algarve!?!

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