2006-08-14

Mais um dia…
Publicado no Jornal do Algarve

Escrever sobre o conflito Israelo-árabe é um exercício com algumas nuances e, acima de tudo, um assunto que não cabe em 3.500 caracteres. Nem tenho a veleidade de tentar apresentar um texto profundo e conhecedor. Antes, fica como um registo de pesar, perante uma guerra eminentemente económica, ainda que com contornos religiosos e até xenófobos. Não tomo partido. Principalmente pelo que falta saber, aquilo que se encontra debaixo do pano desta cena tétrica…

É um problema antigo, confirmado por resolução da ONU, instituindo um Estado que ninguém acreditou vir a funcionar e que a sociedade ocidental não consegue resolver.

Um estado criado por via política, mas que já tinha alguns “antecedentes”, designadamente as aquisições de terrenos pela Agência Judaica e o regresso deste povo às suas origens, no final do século XIX e início do XX. Embora maioritariamente infértil, é certo que o engenho, ciência e porque não, perseverança, transformou uma paisagem outrora empobrecida, num território apetecível. Não fossem os Judeus, o que seria hoje do antigo mandato britânico da Palestina…

A instabilidade nos países do Médio Oriente foi estabelecida quando empresas ocidentais iniciaram a exploração do petróleo no Médio Oriente, impondo preços baixos na aquisição, revendendo os subprodutos a preços altos, com grandes margens. Com uma estrutura e organização político-social quasi-medieval (para padrões ocidentais, entenda-se), não foi difícil.

Quando estes países evoluíram para uma concertação de posições, reclamando uma maior participação nos ganhos da actividade, os conflitos iniciaram-se. A cereja no topo do bolo: a criação do estado de Israel.

Mais importante que perceber se foi um erro histórico, importa saber que existiam alternativas mais inócuas, menos agressivas. Chegou a ser colocada a hipótese de “instalar” o Estado de Israel numa província Ultramarina Portuguesa, mas tal foi recusado pelos Judeus.

Foi, por fim, estabelecido. Se foi por tradição, mito ou oportunidade, não vale a pena desenvolver mais sobre isso. Está implantado! Têm armas nucleares, financiamento e apoio político. Têm um importante grupo de pressão (lobby), especialmente junto do Governo dos EUA. Seja qual for a cor política, estão por perto.

Os Judeus, expulsos há dois mil anos da Palestina, foram também, no século XV, expulsos de Portugal e Espanha (ou “convertidos” ao catolicismo). Têm tido uma sina bastante atribulada, com milhões assassinados no decorrer da II Grande Guerra. Mas será justificação para desregular aquele território, com questões religiosas fortes, que ainda servem de Lei, como aliás, há poucos séculos, ocorria nas sociedades ocidentais? Quem quiser que atire a primeira pedra… mas convém não esquecer os telhados de vidro.

A guerra que temos assistido (com alguns actos de terrorismo à mistura), com ampla cobertura televisiva, está a provocar um afastamento e um cansaço no público, que já se adaptou e vai ficando imune às imagens de destruição, que não consegue transmitir o drama das famílias, as habitações destruídas ou os seus haveres e pertences, como simples fotografias da família, dos momentos felizes… tudo aquilo que decidiram acumular. Não imagino o que é perder toda uma vida de recordações (ou de várias vidas e gerações), para além da casa. No limite, perdem a vida como até aqui a conheciam. Interrompendo-a sem saber até quando! Alguns definitivamente…

Claro que existe uma guerra encoberta entre o Irão e os EUA. Um braço de ferro que acredito ter os dias contados. Existe uma tendência natural para o equilíbrio. Uma necessidade económica, também. Embora o preço do barril de crude (referência europeia) esteja já acima dos 75 dólares, parece que este conflito não está a ter um impacto expressivo no ouro negro. Mas cada dólar a mais significa custos enormes. Desde a produção ao comércio (transporte), a dependência é quase total, seja como matéria-prima ou consumível.

Dá vontade de perguntar: quando é que começamos a investir, de forma séria e estruturada, no desenvolvimento de energias alternativas!?!? Renováveis ou não!

Em relação ao conflito… resta resolver este e tentar adiar o próximo, que virá certamente!

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