2006-09-18

Ai Portugal, Portugal!

Publicado no Região Sul, aqui


Como é que está Portugal em 2006? Melhor que em 2004? Ou do que 1999?

Os fundos comunitários serviram para alavancar a nossa economia? Os serviços públicos são hoje mais eficientes que em 2000? Os técnicoprofissionais, os bacharéis, os licenciados, os mestres, os doutores estão mais preparados que na década de 90? Os cursos correspondem às necessidades do mercado? Os professores têm mais formação específica e pedagógica, i.e. estão mais preparados para leccionar que na década de 80? A nossa formação profissional é mais consequente que em 1991?

Os empresários têm mais formação que há 15 anos? O nosso tecido produtivo está preparado para a globalização? Para o embate de produtos mais baratos, especialmente do Oriente, cada vez mais sofisticados e com tendência para melhorar?

O comércio tradicional está preparado para adaptar os seus horários às necessidades dos consumidores? Nos últimos 10 anos prepararam-se para sobreviver aos grandes grupos de distribuição retalhista?

Os Governos já perceberam que gerir para ciclos políticos apenas adia problemas e compromete reformas? Existe hoje uma estratégia ou política de recursos humanos na administração pública?

Os municípios têm noção real do impacto que têm na economia? Que o seu endividamento compromete o país? Que cresceram demasiado? Muito acima das necessidades e, especialmente, das possibilidades? Hoje existe mais/ melhor planeamento urbano? Mais coerente e informado com os erros do passado?

São tantas as questões que me assolam, todas com resposta mais ou menos fácil, com as devidas variações, conforme o espectro político de cada um e das datas apresentadas.

Portugal é hoje um país mais aberto, disso não tenho dúvidas. Em menos de 30 anos transformaram-se mentalidades, reduziram-se tabus, alguns mitos e dependências religiosas. Foram 30 anos de aprendizagem com a abertura ao mundo. Constante e determinada!

Aprendemos tudo: o bom e o mau. Aprendemos também o significado de “dependência”: dos subsídios, do Estado que tudo apoia, que se tornou patrão, depois arrendatário, finalmente liquidatário e depois moderador. Mas sempre muito presente e paternalista.

Relegamos para segundo plano algumas características que pessoalmente julgo estarem impregnadas no nosso ADN, enquanto nação. Não me refiro ao famigerado epíteto de “desenrascado”, mas à capacidade de empreender e, contra as adversidades, avançar até ao sucesso. Esta característica foi sendo abafada pelo tempo… Pelo cinzentismo e condicionamento do Estado Novo.

Mas isto já passou!

Hoje queremos pagar menos impostos, queremos ganhar mais, queremos ter mais estradas, mais rápidas, melhores escolas, mais teatros, bibliotecas, piscinas, estádios, queremos ensino e saúde gratuitos, queremos, queremos, queremos… dá, dá, dá… tudo isto é necessário. Mas deve ser conseguido pelo aumento do produto, pelo aumento da produção de todos nós: profissionais liberais, empresários, trabalhadores dependentes, reformados… até dos estudantes e dos desempregados!

A nossa maior pobreza não está na falta de recursos, mas na falta de vontade de empreender.

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