2006-09-13

As Grutas da Ponta da Piedade
publicado no Magazine do Algarve

Recortando a costa lacobrigense, descobrindo inúmeras praias e vistas fantásticas, este passeio está estruturado para mostrar, em cerca de 30 a 40 minutos, num pequeno barco a motor, as grutas e cavernas escavadas e encravadas pela natureza na rocha calcária da Ponta da Piedade.

A partida é feita a partir de um pequeno cais existente na foz da ribeira de Bensafrim, na avenida principal da cidade, a poucas centenas de metros da Marina de Lagos.

O “percurso marítimo” vale a pena. Os tons da água translúcida mudam de verde turquesa para o azul cristal, assim como das formações rochosas, dos castanhos ao ocre. Ali encontramos parte importante do património natural do concelho de Lagos, mas também permite vislumbrar parte do importante património histórico desta cidade secular.

Passamos junto ao Forte Ponta da Bandeira, construído nos finais do século XVII para proteger a entrada marítima da cidade, com uma intervenção em 1960, aquando da construção da Avenida dos Descobrimentos, onde foram acrescentadas as 4 guaritas. Avista-se também a Porta de S. Gonçalo, que figura no Brasão da Cidade, assim como os panos de muralhas que cercavam o burgo. A saída da ribeira é feita por entre dois pequenos faróis, o vermelho para dar bombordo e o verde para estibordo. Entramos pelo Atlântico adentro. O mar é normalmente calmo nesta zona. O horizonte é imenso e inspirador…

Passamos pela Praia da Solaria (e do cais com o mesmo nome), depois pela Batata (que ganhou este nome porque os militares jogavam as cascas das batatas aí, quando não se usava ir à praia). Depois a Praias dos Estudantes, Homens e Pinhão, onde existe vestígios de um forte, destruído pelo terramoto de 1755, resta apenas uma parede de pedra… tudo o resto ruiu. Prosseguimos pelas Praias dos Nudistas, D. Ana, Camilo e Canavial.

Depois de “curvar” a ponta, influência do mar do norte, o Atlântico apresenta-se mais picado, mas estava suficiente calmo para prosseguir viagem. Passamos ainda por um pequeno areal, avistando ao fundo a Praia do Porto de Mós. Regressámos.

Existe alguma desorganização nestas rotas, tantas que são as embarcações que exploram este recurso turístico. Embora haja já algum apoio em terra, as saídas não são sincronizadas, o que provoca pequenos “engarrafamentos” na entrada de certas grutas. Não deixa, todavia, de conferir algum colorido.

Deixo também uma nota para o facto de existir a possibilidade de alugar caiaques e fazer esta aventura de forma mais ecológica e desportiva, todavia, sem o benefício das explicações dos experientes barqueiros, que nos vão mostrando figuras de animais e de outros elementos, que a natureza foi “esculpindo” na rocha.

Existe um túnel construído na rocha, que liga algumas destas praias entre si. Infelizmente, com a degradação provocada pela falta de manutenção e pela acção do mar, já não se encontra em condições de utilização plena. É pena que as entidades municipais, que devem defender o património da cidade, tenham descurado sucessivamente este recurso. Impõe-se, na minha opinião, não só a recuperação do túnel/ percurso pedestre, como, por que não, o seu alargamento até onde fosse tecnicamente possível… até à Praia do Porto de Mós, ou mesmo à Praia da Luz. É certo que se trata de uma obra complicada, mas seria um circuito certamente bastante utilizado e potenciador do conhecimento e usufruto desta parte da costa.

Afinal, há muito mais que praia no Algarve…

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