2007-03-22

Ao abandono…
Publicado no Região Sul

A região algarvia não dispõe de muitos Museus. Apesar disto, apresenta algum património e núcleos arqueológicos ao abandono. Refiro-me especificamente a achados romanos e árabes com relevante interesse nacional e não só, que estão sujeitos às intempéries e completamente desprotegidos. Alguns apenas com umas vedações de metal, outros nem isso.

Uma região como a nossa, virada para o turismo, designadamente para o sol, praia e mar, devia há muito ter uma estratégia de requalificação destes elementos alternativos, que podem sustentar uma diversificação do turismo. Refiro-me concretamente ao Turismo Cultural e o de Natureza. São oportunidades interessantes para desenvolver nichos de mercado, que já têm alguma importância local.

O investimento em Museus, património construído com interesse histórico, percursos de descoberta e até gastronómicos, são uma possibilidade de mostrar um pouco mais do nosso Algarve a todos os que, apesar de procurarem praia, também “consomem” Cultura, se lhes dermos essa oportunidade, a facilitarmos e até promovermos.

Quem tiver por hábito passear nesta região encontra alguns Museus bem cuidados e com interesse. Desde logo (puxando a brasa à minha sardinha) o de Lagos, destacando a Igreja de Santo António, onde culmina a visita. Edificações como o Castelo (novo) de Alcoutim, que se encontra muito bem conservado e apresenta um dos mais modernos Núcleos Museológicos da região, ainda que pequeno ou a Estação Arqueológica do Cerro da Vila (Vilamoura), muito bem tratada e equipada, são três exemplos de diferentes soluções de atracção Cultural, onde foram feitos investimentos, que atraem turistas e residentes.

Mas apresentamos também locais de inegável interesse histórico em avançado estado de degradação. Destaco o Castelo de Paderne, sem grande esperança de uma recuperação sustentada, fiel ao que foi e representou para a defesa da região e da Coroa Portuguesa. A Villa Romana da Abicada, no concelho de Portimão, isolada e desprotegida, ou o Forte da Baleeira, ou o que resta dele, com uma vista incrível sobre o Atlântico e as docas de Sagres. Também o Forte de Almádena, já quase no chão, com uma vista de cortar a respiração. Podia continuar, seriam centenas de palavras escritas de tanta história a desaparecer, sem que as entidades oficiais promovam a sua recuperação, o seu aproveitamento turístico e a sua valorização, apesar de altamente diferenciadores da região… e muitos deles classificados pelo IPPAR.

Recentemente, num fim-de-semana, tentei visitar um grupo de Núcleos Museológicos que ainda não conhecia e… espanto (!), estavam simplesmente fechados.

É urgente garantir que os Museus estão abertos ao serviço da população residente e dos turistas, designadamente nos dias e horários mais convenientes para estes e não para os funcionários. Todo o Parque Cultural da região devia estar aberto ao fim-de-semana e feriados, para além dos outros dias, pois é necessário adequar a oferta à procura. Exemplos como o de Lagoa, que tem demonstrado uma preocupação pela adaptação dos horários, com mostras nocturnas e outras políticas de dinamização, são exemplos a seguir.

No âmbito da reestruturação da Administração Pública Central, o Ministério da Cultura já avançou que pretende ficar com 100 funcionários excedentários de outros Ministérios, para os lugares de vigilante e de recepção de diversos Museus. Espero que o Algarve beneficie disto e que possa servir, por exemplo, para abrir ao público tanto património escondido de Sagres a Alcoutim.

Se a maioria das pessoas já não têm muita apetência pelo Património, História e Cultura, se não facilitarmos, pior será!

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