2007-03-03

Moral e bons costumes
Publicado no Jornal do Algarve

A Ética é, acima de tudo, um valor moral. São mesmo sinónimos, a primeira deriva do grego, a segunda do latim. Está presente na nossa matriz cultural e no código de conduta das sociedades, pelo menos na maioria das sociedades. É certo que o é num nível filosófico e doutrinal. A antropologia cultural dedica-se a este estudo, que estabelece critérios comparativos entre estádios evolutivos. A transmissão de padrões sociais não é mais que o resultado da evolução das estruturas primitivas, dos equilíbrios instintivos e baseados na força, para uma sociedade com preceitos e padrões de conduta aceites e promovidos.

Seria eventualmente impossível estruturar um grupo em torno de condutas desviantes, contrárias aos melhores interesses de uma comunidade. A introdução da religião, veio de certa forma normalizar e apoiar a construção de normas que, a par da lei, penalizavam os comportamentos inaceitáveis segundo as regras, punidas pelos Deuses das sociedades politeístas e, depois, nas monoteístas, especialmente com o estabelecimento da Igreja Católica Apostólica Romana, que soube como ninguém promover o medo (temência). Apoiada na noção de culpa e subsequente punição.

É certo que não podemos relevar que foram precisamente esses séculos de “ocupação” religiosa que nos formataram e garantiram, a par das reflexões e ensinamentos de filósofos e de tantos outros pensadores, as ferramentas para uma vivência social minimamente estruturada. Actualmente a fé já não desempenha este papel, já que os sistemas normativos, a par do desenvolvimento dos Estados, especialmente do poder judicial e das forças de segurança, vieram ocupar completamente este espaço. E com vantagens…

Os conceitos morais estão presentes em todas as pessoas que não tenham uma patologia anti-social desviante e que por isso não estejam cientes dos limites ou sejam incapazes de sentir remorsos, culpa, etc. Mas a prática individual pode divergir.

A Ética é um conceito evolutivo. Até comparativo. Os padrões actuais são estabelecidos com base nas correntes filosóficas (e da prática) de uma era onde estes assuntos eram uma ocupação de uma elite de pensadores livres, aos quais muito devemos.

Mas nos negócios, nas empresas, no Estado, enfim, um pouco por todo o lado, os comportamentos são cada vez menos adequados. Desde o aumento da fuga aos impostos; da corrupção instalada: da pequena e da grande; da falta de responsabilidade para com o empregador: comportamentos abusivos, baixas médicas indevidas, etc.; passando também pela irresponsabilidade de muitos empregadores: sem formação ou capacidade para assumir a importante tarefa de gerir uma organização, da qual dependem famílias e outras organizações…

Estes conceitos (em Portugal) vão sendo introduzidos nas Escolas de Gestão, entre outras, mas são conceitos que devem ser alargados à formação básica do cidadão. A Ética é tão importante como o Inglês ou a Matemática.

“Onde quer que se descuide da educação, o Estado sofre um golpe nocivo”
(Aristóteles)

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