2007-03-03

VOX POPULI?
Publicado no Região Sul

O acesso ao poder está condicionado. São os entraves à renovação, a ausência de projectos catalizadores, são os ciclos políticos demasiado curtos, que impedem que muitos objectivos sejam atingidos ou que o sejam fora do momento político adequado. Também pelo descrédito a que esta actividade foi votada e a pouca adesão da população em geral que se lhe seguiu, que limita-se a votar esporadicamente e a contribuir fiscalmente quando obrigado.

A grande política e os momentos eleitorais estão condicionados a montante pela forma de chegar ao poder. Muitas das organizações locais dos Partidos estão vazias de contribuição regular, de reflexão e elaboração de trabalho político contínuo. Resumem-se a sedes, semelhantes a clubes recreativos de bairro, que são excelentes para passar uns bons momentos, mas que defraudam o seu fim. Estão por isso à deriva, desfalecidas. Pior quando são Poder, central ou local, pouco importa. Nem tudo é assim… mas muito é assim…

As orquestrações que são feitas, como a habilidade de “produzir” militantes fiéis, preferencialmente sem grandes comprometimentos ideológicos, sem outras fidelidades que não seja a quem paga as suas quotas, tem anestesiado as organizações de base, que acordam invariavelmente nas eleições internas que contenham momentos eleitorais externos, escolha de listas.

Hoje não existem projectos. Se existem não conseguem sobreviver por falta de “oxigénio”. A famigerada “contagem de espingardas” não se coaduna com ideias. É assim que se parte actualmente para uma luta partidária. Ou então verifica-se a hegemonia do consenso. Que provavelmente ainda é pior. Depois disso, tudo fica na mesma.

Ainda assim, defendo que o nosso regime deve ser sustentado nos Partidos, apesar de concordar que deve ser garantido espaço para grupos independentes, a tónica da vida política deve ser centrada e liderada pelos Partidos. Porquê? Por motivos que ao mesmo tempo que consubstanciam a minha afirmação, também a contrariam.

Os Partidos garantem uma maior abrangência de espectros, são bandeiras dos seus projectos, que são facilmente identificáveis, seja pela matriz ideológica, seja pela programática. Esta vantagem é tanto maior se pensarmos que os Partidos diminuem o risco de grupos de interesses específicos tomarem o “Poder” de assalto. Por outro lado, devido à necessidade de poder, logo de financiamento, são permeáveis a interesses.

Não estou convencido que a renovação de quadros altere profundamente o descrédito. A moralização deve passar pelo estímulo de comportamentos Éticos e embora norteados pelos projectos políticos, assentes naquilo que são os melhores interesses para Portugal, esta abstracção deve significar a melhoria do futuro dos portugueses em geral. A refundação do sistema é de certa forma uma utopia. Não porque seja impossível, mas porque pouco mudava. A tónica deve ser a Formação e essencialmente a Educação e Cultura. Só por esta via conseguiremos, daqui a duas ou mais gerações, produzir um País que seja capaz de voltar a confiar nos seus políticos. O mesmo é dizer, capazes de assumir verdadeiramente a condição de cidadãos.

"A democracia é a pior forma de governo, excepto de todas as outras formas que têm sido experimentadas de tempos em tempos"
(Winston Churchill)

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