2007-08-08

Algarve
Publicado no Jornal do Algarve

O Algarve é um dos activos deste País. Ainda que com mais força em escassos meses, contribui para a economia como poucas outras regiões. Ainda assim, tem o estatuto de “além deserto”. Algo que fica no extremo sul, que parece tantas vezes servir apenas para umas férias de Verão ou quando as eleições à Assembleia da República fazem cá aparecer uns tipos-candidatos que ainda são primos afastados de um senhor que parece ter nascido por cá.

Foram feitos investimentos rodoviários tardios. Refiro-me por exemplo à Via Infante de Sagres (que recuso-me a chamar auto-estrada, pelos motivos que estão à vista – só mesmo quem nunca fez quilómetros numa pode chamá-la disso!) ou à auto-estrada que liga Lisboa a Albufeira. Ligação esta que levou décadas para existir e tantos anos para ficar completa. Levamos por isso demasiado tempo a ficar mais próximos do centro político-administrativo do País. Fomos talvez por isso um pouco esquecidos…

Um amigo chamava-me recentemente à atenção das derivas publicitárias da ASAE no Algarve, fechando restaurantes, fiscalizando os vendedores de bolas de Berlim e por aí fora, entrando pelos estabelecimentos e multando com todo o vigor. A ASAE apenas faz cumprir a legislação que sai da Assembleia da República ou do Governo, mesmo assim, esta vontade de ganhar protagonismo e espalhar a mensagem que existem e trabalham deve ter uma estratégia clara, que não entre em conflito com uma das actividades âncoras desta região: a restauração, especialmente no pico da actividade. Fechar vários restaurantes em pleno Verão, no Algarve, não é o mesmo que fechá-los em Lisboa, no Porto ou em Mortágua. O impacto aqui é maior e, acima de tudo, dá uma péssima imagem aos turistas. O Algarve não está acima de fiscalização, mas passem por cá no Outono ou no Inverno. O clima não é tão bom, é certo, mas é suficientemente acolhedor para que fiscalizem com afinco e dilecção.

E por falar de fiscalização, estou convencido que existe demasiada legislação avulsa e precisamos mesmo de um “simplex” nesta área. Para além de bom senso. Quem abre um estabelecimento comercial deveria ter um enquadramento simplificado, no sentido de evitar as confusões que podem originar multas e fecho de estabelecimentos.

Por vezes a legislação vai contra as tradições e a cultura das populações. A cabidela, a lebre à caçador, o cabrito, o galo ou mesmo os ovos “caseiros”, são cada vez mais substituídos por uma realidade plástica. Produtos de linha de montagem, alimentados a farinha e confinados ao mínimo espaço possível, que vão substituindo os ingredientes tradicionais, com pouca qualidade gastronómica, transformando este pratos outrora afamados, em simples comida de circunstância. O fim destes pratos, como os conhecemos, será mais uma machadada na gastronomia regional, na capacidade de servir sabor, experiência e contexto, algo mais que uma simples refeição. É este o futuro que queremos? Com isto não quero dizer que não hajam maus restaurantes e, genericamente, empresários que enganam o consumidor. Mas preocupa-me a oportunidade e o momento destas fiscalizações, assim como a legislação “cega”.

Existe espaço para regimes de excepção como aconteceu em Barrancos com as touradas de morte? Ou simplesmente vamos continuar a perder os factores realmente diferenciadores?

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