Passagem de ano no Allgarve
Publicado no Região Sul
O fim de ano é uma espécie de montra, de antevisão do que pode ser a região. É uma oportunidade de captar turistas, de vender a imagem de uma região que vive do e para o turismo. Esta é uma realidade onde não tenho sentido incentivos ou vontade de mudança. Enquanto funcionar (e existem condições para que funcione) seremos rentáveis e, por isso, sem estímulo para pensar grandes mudanças. Promova-se por isso o turismo.
Pois é. Mas nem todos podemos gostar das opções de comunicação utilizadas pelas instituições que zelam pela promoção da região. Acabo de ver um anúncio que apela precisamente a que passemos (ou a que passem) o ano no Algarve. Depois da tenebrosa rebaptização (comercial) do nosso tradicional Algarve para “Allgarve”, chega-se ao limite do mau gosto com a utilização do “sexo” para vender a região… ou algo perto disto. Mas sempre com a segurança da noite a acabar bem, ainda que “virtualmente”. É fresco e, se me perdoarem o sarcasmo, muito moderno. Acho que o Brasil há muito tempo apelava também a isto, mas acharam por bem, face à noção de dignidade que foram atingindo, acabar com este tipo de promoção. Penso que venderá perfeitamente carros desportivos ou perfumes, mas convenhamos que não será o mais adequado para umas passagens de ano!
Em relação ao conteúdo é o que tenho a dizer. Em relação à expressão final do actor, fez-me recordar a saudosa série de ficção nacional “Duarte & Companhia”… mais propriamente o Atila (não sei bem porquê!?). Não é exactamente o que necessitamos para comunicar este produto que se quer tão sofisticado e diferenciado. Mas enfim… o que é que eu percebo do assunto? Sou apenas um algarvio…
São estes elementos, são estas estratégias, que me fazem questionar se as estruturas que todos nós financiamos, quer como contribuintes, quer como consumidores, estão adequadas às tarefas a que se propõem! Melhor, às tarefas que, enquanto “accionistas” da República Portuguesa, lhes delegamos. E este ponto faz toda a diferença. Este anúncio envergonha-me enquanto português e algarvio. Está dito, para não ficar atravessado.
A cada recanto do Algarve que descubro, aprofundo a paixão que nutro pela minha região. É interessante que em muitos dos “spots” escondidos que encontro, lá estão estrangeiros a desfrutar. O passa-palavra sempre foi a grande ferramenta de marketing, informal se quiserem, ao serviço da nossa promoção. São as boas experiências, transmitidas aos conhecidos, que permitem trazer novos turistas, já com pontos de interesse recomendados e referências familiares para explorar aquilo que oferecemos, tantas vezes fora dos roteiros e das propostas oficiais. Ainda bem. Mostra que os nossos melhores promotores são afinal os turistas satisfeitos. Isso é algo que devemos promover e acarinhar. Afinal, para além do resto, são o nosso sustento. Sem eles restaria o quê? Industria? Já quase nada existe! Agricultura? Tão-pouco! Serviços!? Alguns, a maioria deles virados para o turismo. É mesmo. Não pensemos pois em qualificar este sector, em promovê-lo condignamente e depois não nos queixemos se o número de dormidas baixar.
2007-12-28
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