2007-12-28

Fundamentalismos!?
Publicado no Jornal do Algarve

Existe uma linha que divide o radicalismo ambientalista e a consciência de preservação do ambiente, como forma de promover os níveis de reposição e assim sustentar a vida de todos aqueles que habitam o planeta e, fundamentalmente, daqueles que hão-de habitar.

Sou da opinião que devemos procurar minimizar, dentro daquilo que nos for possível e razoável, os impactos negativos que diariamente infligimos ao ambiente. Pequenas atitudes podem significar pouco ou quase nada, mas se uma maioria, ou pelo menos um grupo razoável, introduzir alguma mudança de hábitos, podemos contribuir para deixar às próximas gerações um planeta mais equilibrado.

São feitos diariamente danos quase irreparáveis ao ambiente. Mas o planeta entrou em degradação no dia que surgiu… até à sua extinção.

Entre estes dois pontos, estamos nós. A geração actual, no presente, tem sempre a responsabilidade de fazer. O passado já foi e o futuro nunca chega. É por isso que devemos fazer aquilo que pudermos. Mas não quero restringir-me ao ambiente. Também ao nível da qualidade de vida, importante accomplishment destes últimos 100 anos, com mais visibilidade nos últimos 50 anos e, em Portugal, provavelmente nos últimos 20/ 30 anos.

E o que fazer se, para melhorar ou mesmo sustentar a qualidade de vida futura (a nossa e a dos que ainda não nasceram), for necessário comprometer aquilo que até agora conhecemos e aceitamos estar garantido pelo Estado? Essa entidade abstracta que nos dilacera a conta bancária com taxas e impostos, mas que nos providencia, em troca, tanto daquilo que necessitamos.

O fundamentalismo dos “verde eufémios”, por exemplo, é terrorismo! Não terrorismo ambiental, que nos remete para um conceito romântico da luta pelo planeta, mas simples actos criminosos, que a sociedade se esquece de punir.

Outros fundamentalismos de que a nossa sociedade padece são, por exemplo, o ordenamento legal excessivo e a tentativa do Estado imiscuir-se em tudo. Se por um lado permite o touro de morte em Barrancos, impede de comer a tradicional Galinha de Cabidela em São Bartolomeu de Messines – em vez disso, ficamos com a galinha de engorda rápida, aditivada, de aviário, usando sangue quase laboratorial; ou umas simples e tradicionais castanhas assadas em forno de barro, servidas em papel de jornal – que agora só pode ser feito em metal e servida em pacotes de papel. Estes, entre tantos outros exemplos, que integram o nosso património gastronómico, são o nosso “touro de Barrancos” nacional. Quem é que o defende?

Não sou contra a ASAE, que se limita a exercer as competências que o “pai” Estado definiu. Mas estou contra a produção de leis a tonel, especialmente às cegas em relação a certas tradições e que, por isso, deixam-nos mais indiferenciados, logo, mais pobres. O Algarve, que vive do alojamento, da gastronomia, para além do mar, praia e sol, perde com isto. Será que os Ingleses proibiram o seu Fish & Chips enrolado em papel de jornal?!

Nós somos tudo ou nada. Ou somos permissivos até ao limite da extensão do conceito, ou dos mais fundamentalistas possíveis.

“Meio-termo” procura-se!

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