Património cultural
Publicado no Região Sul
O Algarve foi das regiões mais fustigadas pelo terramoto de 1755 e pelos maremotos que se lhe seguiram.
Após este flagelo, a capital do Reino, Lisboa, foi reconstruída, melhorada, tornando-se numa das cidades mais deslumbrantes da Europa do século XVIII. Ainda hoje mantém a sua monumentalidade, apesar dos crimes urbanísticos das últimas décadas.
A nossa região, depois do apogeu dos descobrimentos e da centralização das principais rotas comerciais, perdeu muito do património construído, como muralhas, fortes, atalaias, solares, palacetes, igrejas e outras edificações. Perdemos séculos da nossa história. Irrecuperáveis! Com esta devastação, os eixos comerciais deslocaram-se para Lisboa.
Mas, ainda assim, existe património anterior ao terramoto preservado. Assim como outro, mais recente, que importa classificar e preservar. E esta introdução serve exactamente para escrever sobre uma pequena ermida que fechava a Rua de Santo António lá no seu alto…
A Ermida de Santo António do Alto foi construída no século XV. Com sucessivas obras, melhoramentos, recuperações e ampliações ao longo dos seus mais de 500 anos. Mas o que me agrada mais neste património histórico e cultural é exactamente o facto de ter sido construído junto a um edifício militar medieval, em perfeita simbiose. Trata-se de uma das atalaias que faziam a protecção de Faro, quando canais marítimos passavam por dentro da urbe, protegendo-a dos piratas e mouros. Esta atalaia foi construída no reinado de D. Afonso IV, com a particularidade de ter sido custeada a meias com o edil de Faro. Existe referência a isto no local, assim como às visitas régias, das quais destaco a de El-Rei D. Sebastião, em 1577.
É interessante que a Rua de Santo António, restrita à actual baixa comercial de Faro, começava na zona ribeirinha e subia até esta Ermida. Actualmente a Avenida 5 de Outubro ocupa grande parte desta via.
Quem se deslocar a este pedaço da nossa história, implantado exactamente atrás do Liceu João de Deus, rodeado pelo circuito de manutenção de Faro, vê não só a Ermida, como a atalaia que, provavelmente, atinge o ponto mais alto da cidade. Está todavia fechado. É pena. Um património destes, público, pertença do município, deveria estar aberto e receber todos aqueles que quisessem subir e obter outra imagem da cidade.
A recuperação do edifício, que nem está muito degradado, apesar da talha dourada do retábulo do século XVIII merecer trabalho de restauro, não requer grande investimento.
Sr. Presidente da Câmara Municipal de Faro: visite o local! A importância deste edifício dificilmente passará despercebida. Este conjunto, seja ao serviço do turismo, para o qual Faro começa a despertar, seja em benefício dos seus habitantes, para que não fique esquecido atrás do Liceu, justificam o custo da sua revitalização.
Gostaria de subir, um dia, à atalaia, pagando um bilhete que me permitisse ver Faro lá do alto!
2007-12-28
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