2004-12-17

A direita e a esquerda, uma opção espacial?
Publicado no Jornal do Algarve

Os conceitos de esquerda e direita na sociedade contemporânea estão a perder o seu significado, a sua correspondência e, principalmente, as virtudes de agregador político.

Retira-se deste espectro os alinhados partidários da formatação seguidista, dos cultos dogmáticos do líder e das ultrapassadas, mas estanques, ideologias patológicas.

A nossa consciência política é um processo de formação contínuo. Pessoalmente, pouco me importo de defender, hoje, uma ideia que ontem repudiava. Desde que essa alteração tenha sido consciente, esclarecida e, fundamentalmente, resultante de um processo de análise pessoal.

Naturalmente que os partidos políticos têm uma base ideológica na sua génese, mas a praxis actual difere das suas cartas de princípios – até por vezes do motivo e enquadramento político que esteve na sua origem e das opiniões dos seus fundadores.

Os partidos são formados por muitos militantes (e apoiantes) sem consciência do seu posicionamento político (espacial); pelo menos no sentido real do termo. Podemos pensar que estamos situados num lado, quando, afinal, estamos noutro.

Isto, na minha opinião, resume-se ao efeito “clube de futebol”. As pessoas foram inspiradas, admiraram, votaram ou simplesmente simpatizaram com um líder e foram ficando naquele espectro, para além dos que herdaram a militância. O que não significa que esteja errado. Até deve ser acertado, já que os partidos mudam a orientação em função do líder, da composição da direcção nacional, da ambição de poder, da probabilidade de o exercer, ou, simplesmente, pela posição em certas questões chave, importantes para essa pessoa.

Um dado eleitor pode ter uma concepção conservadora da defesa nacional, liberal da economia, ultra liberal nas liberdades civis e ultra conservadora nas relações entre a igreja e o estado. Isto é possível! E acontece no nosso quotidiano, basta reflectir um pouco.

Como definir então o posicionamento, face à dicotomia esquerda-direita? Não se define! Existirá necessidade de catalogar as pessoas? Penso que não!

É, no entanto, importante tentar conhecermo-nos melhor, testar e mapear onde estamos, qual o ponto que ocupamos no espectro da teoria política. Será que me assumo de direita quando afinal sou de esquerda? Ou o inverso? Será que se assim for, isso é relevante? Fará alterar quem eu sou, em quem voto ou quem vou apoiar?

Sugiro de seguida um sítio na Internet:

http://www.publico.pt/sites/bussola/files/questionario.htm

Aqui pode aplicar um inquérito razoavelmente consistente. Faça-o… conheça-se melhor e depois reflicta.

É claro que conhecer-se melhor não vai mudar a sua tendência de voto, nem quem apoia. Mas será um acto mais consciente.


Jorge Lami Leal

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