2005-11-20

Fora de jogo
publicado no Jornal do Algarve


Não gosto de futebol. Não desgosto de futebol. É-me indiferente! Ponto assente, que serve de introdução e de pretexto para uma reflexão desapaixonada.

Como contribuinte, muitas vezes penso nos gastos que o Estado incorre com o futebol. Embora exista algum financiamento a que, por exemplo, os municípios estão obrigados, designadamente com as classes mais jovens e não profissionais, continua a dependência que durante décadas os poderes públicos tão bem souberam cultivar. E os Clubes (e mais tarde as SAD) aproveitar.

Neste momento vivem uma grande dependência. Nos Clubes mais pequenos, o problema agudiza-se, por falta de capacidade de reunir patrocínios e pela má gestão (dolosa ou simplesmente por incúria) ou manifesta incapacidade real destas estruturas desportivas captar investimento no mercado. Ou por falta de sócios “pagantes”. Ou por falta de apoio da comunidade. Ou então porque são patologicamente insolventes…

Ora a classe política percebeu que os subsídios já não dão votos, pelo menos em número suficiente. Continuou então a decadência e o endividamento, sem fim à vista, dos Clubes de futebol. Claro que também a falta de confiança na economia e de recursos disponíveis, nas empresas, baixou o investimento em comunicação, com reflexos nos patrocínios.

Os sócios pagam, provavelmente, menos de 150 Euros por ano de quotas, mas insurgem-se sempre que algum subsídio não é concedido pelos poderes públicos. Algum terreno que não é cedido. Algum “negócio” que não é sancionado. Esquecem-se que com as suas quotas não pagam o guarda-redes… Não sou saudosista, mas é pena que alguns Clubes, com décadas de história, tenham sido politizados, como aliás uma grande maioria das associações de base local, que se tornaram palco de ambições e de estratégias eleitorais. Ou pseudo-eleitorais. Basta “espreitarmos” os corpos sociais e não ir mais longe.

Mas não critico as pessoas por isso. É legítimo a um associado apresentar listas, eleger e ser eleito. Cabe aos sócios escolher aqueles que mais garantias dão. É a democracia. Constato apenas a realidade.

Voltando ao início. Custa-me co-financiar indirectamente um estádio de futebol (ou os dois metros quadrados de relva, uma cadeira e um fusível), não por ser indiferente ao futebol, mas por não ser sócio. É uma opção. Foi uma escolha.

Existem equipamentos que até posso não usar. Mas que valorizam uma cidade ou o País. Desde que sirvam uma estratégia concreta e sustentada. Já os Clubes de futebol, os seus estádios, os Euros que lhes injectamos, de nada parece servir, pois cada vez mais estão piores. Financeira e economicamente, digamos assim.

Mas existem excepções. Um caso interessante é o de Vila Real de Santo António. O equipamento desportivo serve o desenvolvimento da cidade, ligado aos estágios nacionais e internacionais que realizam. Perspectiva-se uma sintonia entre os Euros investidos e os recebidos, directa e indirectamente. Não sei se existe um plano, mas pelo menos têm um mercado que podem desenvolver. Em termos de turismo e serviços de apoio.

Os 10 estádios de futebol que construímos para o Euro 2004, que contribuíram para empenhar tantas autarquias, com proveitos no turismo por contabilizar, permitiriam construir quantos hospitais? Quantos laboratórios de investigação? Quantos eixos viários? Quantas áreas de localização empresarial? Quantos quilómetros de saneamento básico?

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