2006-01-31

A beatificação

A evolução da sociedade provocou o fim do conceito “milagre”. Hoje, face ao maior esclarecimento, educação [instrução], acesso e circulação de informação, já não existe lugar para o inexplicável; pelo menos a necessidade de ser encontrada uma explicação religiosa. O milagre de Fátima, hoje, seria impossível, assim como o sem número de actos que resultaram na beatificação ou santificação dos seus “autores”.

Não quero com isto ofender aqueles que acreditam em Deus. A fé deve ser um acto de interiorização de uma verdade absoluta, dogmática, muito própria. Não criticável.

Não gosto de misturar igrejas com religião, pois não são a mesma coisa. Uma é feita por Homens, a outra remete-nos para o sobrenatural e para a fé.

O Papa João Paulo II desempenhou um papel na história mundial. Não direi muito consequente, mas esteve presente e preocupado. Muito mais podia ter feito. A monarquia do Vaticano (sim, é tecnicamente uma monarquia) está neste momento a procurar criar mais um novo “milagre” para santificar João Paulo II. Tem sido exactamente por este tipo de posições, para além da incapacidade de acompanhar a evolução da sociedade, que tem levado à sua perda de importância e, acima de tudo, da capacidade de captar mais seguidores e fiéis (o que nem sempre é o mesmo).

O modo mais sustentado de fazer crescer a Igreja, é adaptá-la ao novo milénio.

O que é que os católicos esperam da Igreja? Não será uma linha condutora e um apoio moral irrepreensível? Não será uma conduta de referência? Não será uma orientação espiritual? Não são de certeza “milagres”...

Penso que há muito que as religiões deixaram de servir para explicar o inexplicável. Temos hoje uma ciência credível.

O milagre que o anterior Papa (ou o actual) poderia desenvolver resume-se na abertura da Igreja aos temas como a homossexualidade, o fim da descriminação sexual do sacerdócio, o planeamento sexual, o preservativo como método eficaz na diminuição da propagação da SIDA, etc... ou seja, evoluir!

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