2009-03-15


2008-10-21

FaroMaisCidadania

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Obrigado.

2008-02-05

Pequenos delitos, ou delírios pequenos
Publicado no Região Sul

Fumar passou a ser, desde o início do ano, uma espécie de crime. Se por um lado os direitos dos fumadores são limitados, é certo que quem não fuma tem o benefício de poder beber um café ou comer a sua refeição sem poluição e, acima de tudo, o direito à sua saúde. Por outro lado, os nossos deputados garantiram, ainda assim, a maior parte do território nacional aos fumadores.

Diz-se que os fumadores têm que sair (por exemplo) do restaurante onde se encontram, para dar azo à vontade de acender aquele cigarro que lhes está a dilacerar a alma. Ou seja, os não fumadores ficaram confinados a exercer o seu direito de não fumar (e não serem importunados pelo fumo dos outros) no interior do estabelecimento. Confinados, portanto. Mas a poder respirar fundo.

Estou a imaginar, no próximo Verão, os fumadores a puxar cigarro-atrás-de-cigarro nas esplanadas, tentando recuperar os seis meses que ficaram acercados da sua liberdade de incomodar os outros. E a minha? E a dos meus pulmões?! É certo que não pago 80% de impostos sobre este vício que, apesar de tudo, faz um bem tremendo ao défice público, provavelmente na razão indirecta do que faz à saúde dos que fumam!

E a saúde? Não a nossa, mas os impactos que este hábito tem na despesa pública? Era interessante que se realizasse um estudo profundo dos custos e benefícios, cruzando estes factores todos. Ainda que com umas pausas para fumar uns cigarros, fora do gabinete, claro está!

Mas os nossos legisladores esqueceram-se das classes profissionais que utilizam a zona livre de proibição de fumo como local de trabalho. Ninguém pensou nos milhares de anónimos arrumadores de carros, de carteiros, de polícias em patrulha pedestre (ou de bicicleta), os vendedores de castanhas, entre tantos outros!? Quem é que garante a protecção destes cidadãos à exposição involuntária ao fumo do tabaco?

Claro que como não fumador sou claramente beneficiado pela lei. Apaguei o meu último cigarro passivo e isso é sempre um marco importante. Se considerarmos todos aqueles que trabalham em ambientes anteriormente carregados de fumo, como os bombeiros, percebemos que a sua saúde só pode melhorar.

Eu sugiro que para além de fumadores em actividade e cães (nunca percebi porque motivo se proíbem os cães de entrar em restaurantes e cafés, mas não os gatos, ou mesmo as vacas, bois e porcos, é que um cão sempre incomoda e arranha menos e cheira muito melhor, mas adiante) se faça uma lei mais genérica para proibir a entrada a todos aqueles que fogem aos impostos, que batem nas mulheres (ou nos maridos, que não quero ser acusado de sexismo) ou que descarreguem material informático sem licença da Internet. Isso sim era fazer política. Isso sim seria ambição. Assim, preferem “bater” nos pobres fumadores, que já não têm saúde para se defender…

2007-12-28

Passagem de ano no Allgarve
Publicado no Região Sul

O fim de ano é uma espécie de montra, de antevisão do que pode ser a região. É uma oportunidade de captar turistas, de vender a imagem de uma região que vive do e para o turismo. Esta é uma realidade onde não tenho sentido incentivos ou vontade de mudança. Enquanto funcionar (e existem condições para que funcione) seremos rentáveis e, por isso, sem estímulo para pensar grandes mudanças. Promova-se por isso o turismo.

Pois é. Mas nem todos podemos gostar das opções de comunicação utilizadas pelas instituições que zelam pela promoção da região. Acabo de ver um anúncio que apela precisamente a que passemos (ou a que passem) o ano no Algarve. Depois da tenebrosa rebaptização (comercial) do nosso tradicional Algarve para “Allgarve”, chega-se ao limite do mau gosto com a utilização do “sexo” para vender a região… ou algo perto disto. Mas sempre com a segurança da noite a acabar bem, ainda que “virtualmente”. É fresco e, se me perdoarem o sarcasmo, muito moderno. Acho que o Brasil há muito tempo apelava também a isto, mas acharam por bem, face à noção de dignidade que foram atingindo, acabar com este tipo de promoção. Penso que venderá perfeitamente carros desportivos ou perfumes, mas convenhamos que não será o mais adequado para umas passagens de ano!

Em relação ao conteúdo é o que tenho a dizer. Em relação à expressão final do actor, fez-me recordar a saudosa série de ficção nacional “Duarte & Companhia”… mais propriamente o Atila (não sei bem porquê!?). Não é exactamente o que necessitamos para comunicar este produto que se quer tão sofisticado e diferenciado. Mas enfim… o que é que eu percebo do assunto? Sou apenas um algarvio…

São estes elementos, são estas estratégias, que me fazem questionar se as estruturas que todos nós financiamos, quer como contribuintes, quer como consumidores, estão adequadas às tarefas a que se propõem! Melhor, às tarefas que, enquanto “accionistas” da República Portuguesa, lhes delegamos. E este ponto faz toda a diferença. Este anúncio envergonha-me enquanto português e algarvio. Está dito, para não ficar atravessado.

A cada recanto do Algarve que descubro, aprofundo a paixão que nutro pela minha região. É interessante que em muitos dos “spots” escondidos que encontro, lá estão estrangeiros a desfrutar. O passa-palavra sempre foi a grande ferramenta de marketing, informal se quiserem, ao serviço da nossa promoção. São as boas experiências, transmitidas aos conhecidos, que permitem trazer novos turistas, já com pontos de interesse recomendados e referências familiares para explorar aquilo que oferecemos, tantas vezes fora dos roteiros e das propostas oficiais. Ainda bem. Mostra que os nossos melhores promotores são afinal os turistas satisfeitos. Isso é algo que devemos promover e acarinhar. Afinal, para além do resto, são o nosso sustento. Sem eles restaria o quê? Industria? Já quase nada existe! Agricultura? Tão-pouco! Serviços!? Alguns, a maioria deles virados para o turismo. É mesmo. Não pensemos pois em qualificar este sector, em promovê-lo condignamente e depois não nos queixemos se o número de dormidas baixar.
Fundamentalismos!?
Publicado no Jornal do Algarve

Existe uma linha que divide o radicalismo ambientalista e a consciência de preservação do ambiente, como forma de promover os níveis de reposição e assim sustentar a vida de todos aqueles que habitam o planeta e, fundamentalmente, daqueles que hão-de habitar.

Sou da opinião que devemos procurar minimizar, dentro daquilo que nos for possível e razoável, os impactos negativos que diariamente infligimos ao ambiente. Pequenas atitudes podem significar pouco ou quase nada, mas se uma maioria, ou pelo menos um grupo razoável, introduzir alguma mudança de hábitos, podemos contribuir para deixar às próximas gerações um planeta mais equilibrado.

São feitos diariamente danos quase irreparáveis ao ambiente. Mas o planeta entrou em degradação no dia que surgiu… até à sua extinção.

Entre estes dois pontos, estamos nós. A geração actual, no presente, tem sempre a responsabilidade de fazer. O passado já foi e o futuro nunca chega. É por isso que devemos fazer aquilo que pudermos. Mas não quero restringir-me ao ambiente. Também ao nível da qualidade de vida, importante accomplishment destes últimos 100 anos, com mais visibilidade nos últimos 50 anos e, em Portugal, provavelmente nos últimos 20/ 30 anos.

E o que fazer se, para melhorar ou mesmo sustentar a qualidade de vida futura (a nossa e a dos que ainda não nasceram), for necessário comprometer aquilo que até agora conhecemos e aceitamos estar garantido pelo Estado? Essa entidade abstracta que nos dilacera a conta bancária com taxas e impostos, mas que nos providencia, em troca, tanto daquilo que necessitamos.

O fundamentalismo dos “verde eufémios”, por exemplo, é terrorismo! Não terrorismo ambiental, que nos remete para um conceito romântico da luta pelo planeta, mas simples actos criminosos, que a sociedade se esquece de punir.

Outros fundamentalismos de que a nossa sociedade padece são, por exemplo, o ordenamento legal excessivo e a tentativa do Estado imiscuir-se em tudo. Se por um lado permite o touro de morte em Barrancos, impede de comer a tradicional Galinha de Cabidela em São Bartolomeu de Messines – em vez disso, ficamos com a galinha de engorda rápida, aditivada, de aviário, usando sangue quase laboratorial; ou umas simples e tradicionais castanhas assadas em forno de barro, servidas em papel de jornal – que agora só pode ser feito em metal e servida em pacotes de papel. Estes, entre tantos outros exemplos, que integram o nosso património gastronómico, são o nosso “touro de Barrancos” nacional. Quem é que o defende?

Não sou contra a ASAE, que se limita a exercer as competências que o “pai” Estado definiu. Mas estou contra a produção de leis a tonel, especialmente às cegas em relação a certas tradições e que, por isso, deixam-nos mais indiferenciados, logo, mais pobres. O Algarve, que vive do alojamento, da gastronomia, para além do mar, praia e sol, perde com isto. Será que os Ingleses proibiram o seu Fish & Chips enrolado em papel de jornal?!

Nós somos tudo ou nada. Ou somos permissivos até ao limite da extensão do conceito, ou dos mais fundamentalistas possíveis.

“Meio-termo” procura-se!
Património cultural
Publicado no Região Sul

O Algarve foi das regiões mais fustigadas pelo terramoto de 1755 e pelos maremotos que se lhe seguiram.

Após este flagelo, a capital do Reino, Lisboa, foi reconstruída, melhorada, tornando-se numa das cidades mais deslumbrantes da Europa do século XVIII. Ainda hoje mantém a sua monumentalidade, apesar dos crimes urbanísticos das últimas décadas.

A nossa região, depois do apogeu dos descobrimentos e da centralização das principais rotas comerciais, perdeu muito do património construído, como muralhas, fortes, atalaias, solares, palacetes, igrejas e outras edificações. Perdemos séculos da nossa história. Irrecuperáveis! Com esta devastação, os eixos comerciais deslocaram-se para Lisboa.

Mas, ainda assim, existe património anterior ao terramoto preservado. Assim como outro, mais recente, que importa classificar e preservar. E esta introdução serve exactamente para escrever sobre uma pequena ermida que fechava a Rua de Santo António lá no seu alto…

A Ermida de Santo António do Alto foi construída no século XV. Com sucessivas obras, melhoramentos, recuperações e ampliações ao longo dos seus mais de 500 anos. Mas o que me agrada mais neste património histórico e cultural é exactamente o facto de ter sido construído junto a um edifício militar medieval, em perfeita simbiose. Trata-se de uma das atalaias que faziam a protecção de Faro, quando canais marítimos passavam por dentro da urbe, protegendo-a dos piratas e mouros. Esta atalaia foi construída no reinado de D. Afonso IV, com a particularidade de ter sido custeada a meias com o edil de Faro. Existe referência a isto no local, assim como às visitas régias, das quais destaco a de El-Rei D. Sebastião, em 1577.

É interessante que a Rua de Santo António, restrita à actual baixa comercial de Faro, começava na zona ribeirinha e subia até esta Ermida. Actualmente a Avenida 5 de Outubro ocupa grande parte desta via.

Quem se deslocar a este pedaço da nossa história, implantado exactamente atrás do Liceu João de Deus, rodeado pelo circuito de manutenção de Faro, vê não só a Ermida, como a atalaia que, provavelmente, atinge o ponto mais alto da cidade. Está todavia fechado. É pena. Um património destes, público, pertença do município, deveria estar aberto e receber todos aqueles que quisessem subir e obter outra imagem da cidade.

A recuperação do edifício, que nem está muito degradado, apesar da talha dourada do retábulo do século XVIII merecer trabalho de restauro, não requer grande investimento.

Sr. Presidente da Câmara Municipal de Faro: visite o local! A importância deste edifício dificilmente passará despercebida. Este conjunto, seja ao serviço do turismo, para o qual Faro começa a despertar, seja em benefício dos seus habitantes, para que não fique esquecido atrás do Liceu, justificam o custo da sua revitalização.

Gostaria de subir, um dia, à atalaia, pagando um bilhete que me permitisse ver Faro lá do alto!

2007-11-15

Uma década
Publicado no Região Sul

Estava eu metido na minha vida, ocupado entre a minha actividade profissional e a minha vida familiar, já distante dos anos em que fui dirigente associativo, quando recebo um telefonema que me fez regressar ao século passado. A Associação Académica da Universidade do Algarve fazia anos e estavam a organizar uma Gala para comemorar os primeiros 10 anos.

Esta instituição não foi pacífica de criar e recordo-me das horas, dos dias, dos meses que passei com o Augusto Costa e o José Maria Mascarenhas, debatendo-nos para criar a proposta de estatutos, para os aprovar em Assembleia Magna e, mais tarde, registar a associação, contando sempre com a preciosa ajuda e experiência do Dr. Carlos Martins e com a alto patrocínio do Prof. Doutor Eugénio Alte da Veiga, Reitor nessa altura. Foram tempos fantásticos, esses e os seguintes, entre a comissão de instalação e a primeira direcção-geral (disputada em eleições). No fim desse mandato, retirei-me do movimento associativo, já com nostalgia. Com consciência de que jamais voltaria a passar por momentos como aqueles. Foram de facto únicos.

A Associação Académica fechou este primeiro ciclo. Uma década de presença, de sonhos, de aspirações e contribuições por um ensino superior melhor. Em resumo, uma década em que centenas de pessoas trabalharam, quase sempre em silêncio e sem o reconhecimento dos seus pares, que não imaginam a importância e, sobretudo, o empenho que estas pessoas tiveram, têm e terão, sempre à custa de qualquer coisa.

Claro que existem compensações. Ser dirigente de uma instituição como esta traz-nos benefícios, desde logo e sobretudo uma aprendizagem não negligenciável. Posso dizer que aprendi mais na Académica do que grande parte do meu curso. Este foi o meu tirocínio.

No decorrer da Gala, enquanto ouvia alguns discursos, recordava-me como foi e é possível a um pequeno grupo de jovens, sem qualquer experiência, no início ou no meio dos seus percursos académicos, construir, desenvolver e continuar a fazer crescer, ao longo destes 10 anos, esta organização impar, com responsabilidades em áreas tão distintas como a defesa dos interesses de uma academia, passando pela área empresarial, com bares, centros de cópias, livraria, etc. até à animação cultural, designadamente a organização de um dos maiores eventos da região: a Semana Académica e ao desporto e informação. Tudo com pessoas que fazem compensar a falta de experiência com a vontade de vencer, que daqui seguem para cumprir os seus objectivos e ambições.

Voltando à Gala; ela simbolizou mais do que aquilo que a actual Direcção-geral idealizou. Ela glorificou os estudantes, os anónimos estudantes que escolheram a Universidade do Algarve como veículo para construir um futuro melhor. Muitos milhares de pessoas, entre excluídos e privilegiados, ricos e pobres, bons e maus alunos, interessados e desinteressados. E todos os que estão no meio. Foi esta massa humana que esteve no palco e na plateia. Tiveram a hipótese de vislumbrar um pouco do futuro, através das experiências que anteriores dirigentes partilharam, assim como das histórias de um passado ainda recente, mas que não deve ser esquecido.
“O Homem é do tamanho do seu sonho” (Fernando Pessoa)
Publicado no Jornal do Algarve

Todos nós possuímos competências que, com maior ou menor expressão, nos diferenciam dos outros. Não de todos, mas permite-nos um espaço onde podemos apostar. Digamos que existe uma propensão individual para determinadas áreas profissionais, que abrem portas à especialização, nomeadamente se beneficiarmos de formação, seja de que tipo for. A dificuldade está, muitas vezes, em saber qual! Saber o que nos distingue! Conhecer o que nos torna diferentes numa organização! Onde podemos apostar? Onde é que o investimento em formação é mais eficiente? Em que matéria o nosso investimento (quer seja de tempo, quer seja de dinheiro, mas sempre de esforço) terá maior probabilidade de sucesso?

Não se trata de investir naquilo que mais gostamos. Conseguir uma diferenciação profissional é tarefa difícil, mas não impossível. Importa conhecermo-nos bem, designadamente os nossos limites, gostos, interesses, aptidões. A confiança é fundamental, assim como um espírito aberto a novos conhecimentos. Aprender pode não ser apenas estudar; não devemos compartimentar o conhecimento, restringindo-o apenas ao saber universitário, tão pouco à sensaborona formação profissional. Aprender é conhecer, viajar, mudar, sempre tentando absorver e perceber aquilo que até esse ponto nos passou ao lado. Aprender é viver

O ensino oficial não está motivado para perceber o perfil específico e individual, que podia permitir desde cedo a orientação de cada um para um conjunto de questões: (1) o que é que quer fazer, (2) que apetências demonstra ou possui e (3) como está o mercado de trabalho e quais as perspectivas no médio e longo prazo. Ao invés disto, o ensino está vocacionado para a massificação do saber, bem compartimentado, que depois vai cuspindo “cá para fora”, certificando que sabemos “ler” e “contar”.

A criação de grupos com interesses específicos, como os clubes e ateliers temáticos são um exemplo da tentativa de dar uma formação diferenciada, ainda meramente complementar, mas é pouco. E o muito é inatingível, já que é utópico. Devemos ficar no meio destes. Uma escola que conheça os seus “clientes” e decida fazer concorrência neste mercado quase monopolista, que nem sequer entre escolas públicas permite concorrência, a não ser com o expediente da morada de um “amigo”.

Por vários motivos, um dos grandes investimentos que o Estado pode fazer é na Educação. Mas só não chega. É imprescindível que mantenha coerentes e estáveis as políticas educativas, os modelos de ensino e melhore a formação de professores e a sua certificação. É certo que o saber de hoje está nas antípodas do de ontem. Mas não nos serve (digo eu!), enquanto cidadãos e, fundamentalmente, como contribuintes, as mudanças de rumo que cada Governo tenta. Obviamente convicto que está correcto, que neste ponto nem quero questionar, pois seria desonesto da minha parte. Pena é que essa convicção muda invariavelmente com a dinâmica dos escândalos, das estratégias políticas, das sondagens eleitorais ou dos ciclos eleitorais.

Assim, em resumo, ensinar a aprender é algo que nos tem feito falta.
Tolerância Zero!
Publicado no Região Sul

Somos um país de brandos costumes. Fartamo-nos de ouvir, dizer e escrever esta frase. Mas cai-nos tão bem.

Não deixa de ser sintomática e bastante apropriada. Está-nos no sangue, que é como quem diz, no fundo, que somos mais ou menos aquilo que somos, sem querer ser mais e sem ser menos. Somos assim-assim.

Gritamos com o carro da frente por ter entrado na nossa faixa de rodagem e, logo a seguir, permitimo-nos isso mesmo, pois somos melhores condutores e sabemos o que estamos a fazer, ou simplesmente por distracção. Nunca assumida, obviamente! Se levarmos a tal buzinadela, aqui d’el Rei que é um filho d… de dois progenitores, sem dúvida respeitáveis, que souberam gerar e criar, quiçá a custo, tamanho alarve.

Acabo de chegar a casa vindo da Praia de Faro. Enquanto esperava que o semáforo me permitisse a entrada na “ilha”, reparei num cartaz informativo que proibia, entre outras coisas, o auto caravanismo. Depois de esperar por um carro que já tinha passado no vermelho (!), lá fiz aquela desculpa de ponte e dei com… não três, não quatro, não cinco (está quase), não seis, não sete (é agora), mas oito auto caravanas. Sim: oito. Mas podiam ser sete, duas ou uma. É proibido. Mesmo para aqueles que eventualmente não sabem ler, o sinal universal é inequívoco. É PROÍBIDO! E isto chateia-me por dois motivos. Primeiro porque existe naquela mesma ilha, assim como pelo Algarve inteiro, um parque de campismo. Basta para isso pagar e usufruir (legalmente) da simbiose entre a Ria Formosa e o Oceano Atlântico. O segundo motivo é muito mais prosaico: porque ninguém liga, especialmente as forças de segurança. Para isso, retirem o cartaz… é mais respeitável.

Os portugueses (lá estou eu a generalizar) têm uma relação de amor-ódio com as regras e as leis. Quando lhes serve são o melhor que há… nas restantes vezes são excessivas e quem as faz uns malandros. Claro que existem excepções. Mas que raio, a excepção não faz “as regras”!

Na zona onde resido estão a fazer umas obras na rede de água. Uma conduta por estrear, enterrada há alguns anos, está - só agora - a ser conectada. Há quase 2 meses que dura a obra. Esta consiste, essencialmente, em encontrar as várias subcondutas e ligá-las à tal que esteve morta e enterrada, embora por estrear. A piada é que durante umas semanas abriam e fechavam os mesmos buracos. Fazendo com que os utilizadores gastassem dezenas (ia escrever centenas mas pareceu-me um exagero) de litros por dia até conseguir que a mesma deixasse de parecer Coca-cola (eu provei e não era, tinha um pouco menos de gás!). Desta cor passava para outra, normal em Países do Terceiro Mundo e, finalmente, ficava com um aspecto moderadamente transparente, que é como quem diz, minimamente aceitável. Pelo menos um mês andei nisto. Agora está mais calmo. Abandonaram o trabalho, mas sem ficar acabado. Certamente vão voltar. Eventualmente. Um dia. Eu por cá os espero. Que remédio.

2007-09-29

Serviço Público
Publicado no Região Sul

“Cada português paga 36 euros mensais à RTP”. Esta conta, mal ou bem feita pelo DN, é preocupante.

O custo de uma ligação por cabo, com 40 canais, acesso à Internet e voz é mais baixo que o contributo (médio), indicado em cima, para o serviço público de televisão. Bem sei que não podemos comparar as situações, mas enfim… se analisarmos o custo/benefício das duas alternativas, caso pudéssemos optar por pagar uma em detrimento da outra, estou certo que a RTP acabava em pouco tempo…

O Estado assume um conjunto de actividades, concessiona outras e encontrou uma fórmula a que chamou de “indemnização compensatória” para financiar empresas públicas com prejuízos como a RTP.

Quantas vezes o tão eufemisticamente designado “serviço público” disfarça empregos de políticos, quer sejam retirados, em stand-by ou como compensação; encobre jogos de poder, de controlo sobre o que se diz e aquilo que se quer que diga, no caso das empresas de comunicação social. A qualidade e o conteúdo formal deste “serviço” afastam-se dos objectivos que devem nortear a catalogação com este insigne rótulo. No caso da televisão pública, encontro uma degeneração da grelha, uma subjugação da sua qualidade (sim! o que é a qualidade e quem é que a classifica, mas isso dava outro texto) em detrimento das receitas; os formatos são semelhantes ao que é feito nos canais ditos comerciais. Provavelmente o 2.º canal desempenha aqui algo próximo do que deveria ser o serviço público da RTP, no seu conjunto.

Não é pelo prejuízo que esta empresa apresenta que considero vantajoso a venda do canal principal. Ou do segundo. Não sei se existe mercado para três canais completamente privados, mas isso não deve ser, genericamente, uma preocupação do Estado. Um canal estatal, sem publicidade, com produção nacional, com uma estratégia clara de ditar os parâmetros em áreas como os formatos noticiosos, com mecanismos que garantam a isenção e a excelência jornalística, deveria ser a aspiração de quem consome os “meus” 36 Euros mensais. Gostaria de pensar que são “pagos” com algum propósito.

É interessante que um dos factores altamente diferenciadores de produzir formatos noticiosos de base regional, onde existe uma delegação da estação pública, foi abandonado.

Não sei como funciona noutros Países europeus, mas em Portugal, a tendência é que o poder político tente, de alguma forma, mais directa, ou mais dissimulada, exercer a sua influência. A cobertura que a RTP fez das últimas acções de marketing do Governo é um exemplo clássico. Nada é sem querer. Não existe lugar para a inocência.

O Algarve, por exemplo, tem jornalistas, operadores de câmara, etc. Qual o resultado desse esforço financeiro? Retirando as filmagens de praias durante o período balnear e o caso mediático que temos presentemente entre mãos, sente-se o seu trabalho? Deixam, em Lisboa, que se sinta o seu trabalho? Existem critérios de relevância das matérias, mas será que não existem notícias para dar que não estejam relacionadas com um caso de eventual desaparecimento de uma criança inglesa? Por muito apaixonante que possa parecer ao português médio, ávido de intriga e sangue! Não deve ser a responsabilidade da direcção de informação servir o tal interesse público e credibilizar o mercado? Deixem para os privados esse pranto… Lá estão os “meus” 36 Euros a voar…

2007-09-14

Quem somos?
Publicado no Região Sul

A Ibéria preconizada por Saramago é um sonho, uma utopia ou uma perfeita parvoíce?

Ser português não se limita ao facto de nascer dentro das fronteiras seculares do país europeu definido geograficamente há mais tempo. Tão pouco é afunilar o conceito com qualquer discriminação racial ou até de mera genética. Ser português é uma atitude, uma predisposição e o resultado do ideário de D. Afonso Henriques: sermos e estarmos, porque já existimos. Depois dele, tantos heróis, anónimos e não só, ajudaram a expandir e a consolidar o conceito. Somos também o resultado da miscenização que as cruzadas e a giesta marítima iniciaram. Somos europeus por circunstância geográfica, africanistas por vocação, orientais por ambição e sul-americanistas por convicção, ou pela nostalgia de um sonho utópico.

Achar que a identidade de um povo está ao serviço das aspirações económicas é limitar profundamente o conceito de portugalidade e, ainda mais, rebaixar a nossa condição lusa. A ideia pubescente de Saramago, um auto exilado na sequência de uma birra com um governo, gostando-se ou não do seu trabalho, tem patente um sentimento edipiano.

Portugal existe muito para além dos portugueses. E estes, muito para além dos limites do território. Este pequeno ponto do globo, com pouco mais de 10 milhões de pessoas, insignificante para tantos, é o resultado da perseverança de alguns, com a complacência de outros. Mas é, acima de tudo, o resultado de uma qualquer força que nos mantém, face às ameaças, a maus reinados, a maus governos, à desleixada Primeira República, ao soturno Estado Novo, à perversão do PREC. E continua. Sabe-se lá o que nos mantém desde 1139 (ou do reconhecimento em 1143)...

Não acredito que a independência seja algum dia colocada verdadeiramente em causa. A não ser no plano académico ou intelectual. Até acredito que muitos o queiram e alguns o defendam. Mas não é, nem será, praticável. Quer a ideia seja a “absorção” ou a “fusão” com a vizinha Espanha, para além dos séculos de diferenças, não vejo qualquer interesse dos nossos “hermanos”, que já cá estão a facturar e a consolidar posições, que é que mais lhes interessa.

Independentemente do que escrevi acima, acredito que chegará a altura em que repensaremos Portugal. Não o País, mas as estruturas, as heranças monolíticas, os conceitos, os modelos, os sistemas. Mas isso levará o seu tempo. Os limites ainda não foram atingidos. Reflectimos sobre o pior quando estamos em baixo e desligamo-nos mais quando tudo melhora.

2007-08-08

É Cultura?
Publicado no Região Sul

Faro. Capital do distrito com o seu nome. A importância política desta cidade é tardia. Silves e Lagos foram os primeiros centros de poder. Com o fim da importância estratégica, económica e militar desta região, muito por culpa também do terramoto que nos assolou, soterrando um passado cheio de glórias, edifícios, vidas e histórias, para além das incursões de piratas e tropas estrangeiras, Faro foi crescendo e assumiu a sede do Bispado, transferida de Silves, no final do séc. XVI. Tornou-se o centro público e eclesiástico algarvio.

Considero que Faro garantiu o seu espaço devido à localização e de uma forma um pouco circunstancial. Actualmente, Faro vai perdendo algum protagonismo para Loulé. Infra-estruturas como o estádio do Algarve e o Hospital Central são disso exemplos. Não sei se é relevante ou se existe alternativa. Pessoalmente, pouco me importa. Loulé é Algarve. Mas sinto que não existiu uma estratégia clara para viabilizar estas infra-estruturas no perímetro do concelho, como estou certo que ocorreu em investimentos que a autarquia deixou fugir no passado, por posições de “cartilha”.

Faro é hoje uma cidade com uma zona histórica interessante, com potencial turístico, mas com uma floresta de betão em sua volta e pelo meio. Foi permitido transformar as hortas que circundavam a cidade em prédios de mau gosto e de qualidade urbanística duvidosa. Não há volta a dar. Está feito. Vivemos todos com isto, gostemos ou não. Mas também tem sido permitido destruir muitas das casas oitocentistas, importante património colectivo, transformadas em mais prédios desinteressantes, depósitos de almas. Faro merecia mais dos seus autarcas!

Mas isto tudo a propósito da Cultura? Sim. Porque não? Faro é hoje uma referência na região, pelo menos uma referência com um cartaz constante. O Teatro das Figuras e o Lethes têm sido os palcos deste fenómeno. Aplaudo. Mas Cultura é muito mais que teatro e música. É uma atitude global.

Fui neste fim-de-semana, uma vez mais, ao festival (de Cultura gastronómica, porque não?) que a VIVMAR organiza todos os anos. Desta feita, infelizmente (embora entenda os motivos) fora da Vila Adentro. Foi-se uma parte importante da mística que só o Paço Episcopal, o Seminário, a Sé velha, o restante casario e até a calçada conferiam ao evento…

(Há uns anos, não sei bem quantos, precisamente por altura deste festival, alguma sumidade camarária decidiu pintar as paredes da Sé. Os cunhais, outrora de pedra à vista, foram cobertos de tinta. Tenho esta “atravessada” na garganta e, já que escrevo sobre Cultura, aproveito para fazer a catarse. Sempre que por lá passo, não consigo deixar de abanar a cabeça… que raio de ideia foi aquela?!?!)

… Depois da tal mariscada, fui à exposição de arte com a chancela sempre importante de Serralves. Estava dividida por três espaços: a Galeria Trem, a Fábrica e o Convento da N.ª Sr.ª da Assunção. A exposição é de arte contemporânea, muito em voga desde que o Comendador Berardo conseguiu impor ao Estado Português a “sua” colecção.

Para ser honesto não gostei. Não sei em que cave a Fundação de Serralves esconde estas obras, mas tirando uma ou outra, muito boas, desconcertantes, o restante considerei medíocre. Mas enfim, é a minha opinião, e pouco avalizada, adianto. Vale o que vale. Ainda pensei deslocar-me a Loulé e a Lagos para ver o restante… mas desisti.
Algarve
Publicado no Jornal do Algarve

O Algarve é um dos activos deste País. Ainda que com mais força em escassos meses, contribui para a economia como poucas outras regiões. Ainda assim, tem o estatuto de “além deserto”. Algo que fica no extremo sul, que parece tantas vezes servir apenas para umas férias de Verão ou quando as eleições à Assembleia da República fazem cá aparecer uns tipos-candidatos que ainda são primos afastados de um senhor que parece ter nascido por cá.

Foram feitos investimentos rodoviários tardios. Refiro-me por exemplo à Via Infante de Sagres (que recuso-me a chamar auto-estrada, pelos motivos que estão à vista – só mesmo quem nunca fez quilómetros numa pode chamá-la disso!) ou à auto-estrada que liga Lisboa a Albufeira. Ligação esta que levou décadas para existir e tantos anos para ficar completa. Levamos por isso demasiado tempo a ficar mais próximos do centro político-administrativo do País. Fomos talvez por isso um pouco esquecidos…

Um amigo chamava-me recentemente à atenção das derivas publicitárias da ASAE no Algarve, fechando restaurantes, fiscalizando os vendedores de bolas de Berlim e por aí fora, entrando pelos estabelecimentos e multando com todo o vigor. A ASAE apenas faz cumprir a legislação que sai da Assembleia da República ou do Governo, mesmo assim, esta vontade de ganhar protagonismo e espalhar a mensagem que existem e trabalham deve ter uma estratégia clara, que não entre em conflito com uma das actividades âncoras desta região: a restauração, especialmente no pico da actividade. Fechar vários restaurantes em pleno Verão, no Algarve, não é o mesmo que fechá-los em Lisboa, no Porto ou em Mortágua. O impacto aqui é maior e, acima de tudo, dá uma péssima imagem aos turistas. O Algarve não está acima de fiscalização, mas passem por cá no Outono ou no Inverno. O clima não é tão bom, é certo, mas é suficientemente acolhedor para que fiscalizem com afinco e dilecção.

E por falar de fiscalização, estou convencido que existe demasiada legislação avulsa e precisamos mesmo de um “simplex” nesta área. Para além de bom senso. Quem abre um estabelecimento comercial deveria ter um enquadramento simplificado, no sentido de evitar as confusões que podem originar multas e fecho de estabelecimentos.

Por vezes a legislação vai contra as tradições e a cultura das populações. A cabidela, a lebre à caçador, o cabrito, o galo ou mesmo os ovos “caseiros”, são cada vez mais substituídos por uma realidade plástica. Produtos de linha de montagem, alimentados a farinha e confinados ao mínimo espaço possível, que vão substituindo os ingredientes tradicionais, com pouca qualidade gastronómica, transformando este pratos outrora afamados, em simples comida de circunstância. O fim destes pratos, como os conhecemos, será mais uma machadada na gastronomia regional, na capacidade de servir sabor, experiência e contexto, algo mais que uma simples refeição. É este o futuro que queremos? Com isto não quero dizer que não hajam maus restaurantes e, genericamente, empresários que enganam o consumidor. Mas preocupa-me a oportunidade e o momento destas fiscalizações, assim como a legislação “cega”.

Existe espaço para regimes de excepção como aconteceu em Barrancos com as touradas de morte? Ou simplesmente vamos continuar a perder os factores realmente diferenciadores?

2007-08-01

Desafio!

Ora aqui está um desafio interessante. Os livros da minha vida. Foi essa a proposta que o Makejeite me fez aqui.

Pedro Paixão. Qualquer dos livros que escreveu; e li quase todos! Joga-me imediatamente para dentro de mim. Revisito-me. Perco-me nas letras, nos parágrafos e nas comiserações, estas tornam-se minhas. Fica sem saber para onde vou, nem sei se o autor sabe onde quer chegar, levar-nos ou sequer percebeu que não chegou a partir.

Encontrei este livro, no início da minha adolescência, nos escaparates da biblioteca lá de casa, perdido para mim até aí. “Os Maias”, leitura obrigatória no ensino secundário, acompanhou-me numa viagem por Itália. Descobri Eça entre os Alpes e o Tibre. Descobri uma literatura que me fez imaginar de outra forma e que me introduziu na literatura portuguesa, especialmente a contemporânea de Eça.

"A Causa das Coisas". Compilações do nosso Portugal. A nação revisitada pelo grande MEC. Saudades daquela forma de escrever, mas sobretudo de pensar.

"Equador". Para mim, mais que um livro, é um vislumbre de outra época e de outra forma de escrever. Não tanto o enredo, nem sequer os personagens, mas a visão e a forma como nos leva para outro mundo, já perdido e quase esquecido.

"O Livro do Desassossego". Puro. Pessoa em estado puro. O individuo sozinho, companhia de si próprio. Fernando Pessoa fala, através de Bernardo Soares, das suas próprias angustias e frustrações. Fala das nossas próprias… Pessoa foi em quase tudo um português cinzento, excepto na herança-maior que deixou à literatura mundial.

Estas foram as minhas escolhas. Reparei no fim que apenas seleccionei escritores portugueses. Não foi propositado, mas ficam aqueles que mais me tocaram, pelos motivos que indiquei, ou nem por isso. Tantos outros ficaram de fora, mas uma selecção é assim mesmo. A vida é assim!

2007-07-19

Pequenos tiques mais ou menos irritantes…
Publicado no Região Sul

O preço do café acaba de aumentar no produtor. Os cafés, pelo menos os principais, têm acordos (contratos) com as marcas que asseguram o fornecimento, pelo que os preços só serão reflectidos daqui a algum tempo. Dizia um empresário do ramo HORECA, numa entrevista televisiva, que não ia aumentar para já os preços da “bica”, já que o aumento dos custos não se fariam sentir no imediato. Já me tinha esquecido deste assunto. No entanto, na passada segunda-feira, verifiquei que o preço da “bica” aumentou 10 cêntimos no estabelecimento que frequento diariamente. Ou seja aumentou 16,7%!?! Até nem me chateava se a bica fosse boa, mas não é. É do pior que existe em Faro… Assim, atravessei a rua e bebi uma bica melhor, pelo preço “antigo”. Fiquei a ganhar.

O estacionamento no Verão é caótico. São feitos investimentos na melhoria da circulação e depois assistimos a autênticos atentados ao código da estrada… mas, como é Verão, parece que as forças de segurança não ligam tanto. Refiro-me, por exemplo, à Avenida Mota Pinto e à Sá Carneiro em Quarteira! Reduzem uma avenida com duas faixas (por cada sentido) a uma ruazita, já que a faixa da direita (a tal onde deveríamos circular normalmente) está transformada em estacionamento. Sugestão minha: uns parquímetros portáteis para o Verão (brincadeira minha!) – multem mas é a torto e a direito… e não é figura de estilo, pois até nas rotundas já se estaciona…

Os prazos de entrega. Não sei como é no resto do País. Mas estou farto da postura de tantos empresários, que acordam a entrega para uma altura, para serem quase sempre desrespeitados. Dizer que algo chega numa data, significa, com os devidos descontos, esperar o dobro do tempo. É um bom exercício. Experimente!

Pedir uma água. Hoje em dia pedir uma água é uma aventura só comparável com pedir uma garrafa de vinho. Comecemos pela base: com gás ou sem gás. Depois, seja com ou sem, há um sem número de sabores, desde os mais simples, como o limão ou a maçã, aos compostos, como o lima-limão, etc… mesmo com gás existe o normal e o menos gasoso. Não é uma tarefa nada fácil, digo-lhe sinceramente.

Jantar fora nesta estação. Em qualquer cidade mais turística desta região, comer fora pode implicar um aumento considerável na tensão arterial. Não é fácil conseguir uma mesa ou receber o mesmo nível de serviço que no resto do ano. Está tudo entupido e tenho assistido ao aumento de procura em estabelecimentos de restauração mais escondidos, até na serra, onde se vai notando um aumento de visitantes. Este ponto é positivo.

O peixe da costa que por vezes nos tentam servir. Algumas vezes até vem da costa, não de dentro do mar, mas daqueles talhões rectangulares de piscicultura mesmo ao lado…

O Festival do Marisco de Olhão. Gostei do evento durante muitos anos. Hoje serve, e mal, o turismo. Come-se bem melhor pelos restaurantes desta localidade, do que propriamente dentro do recinto.

O atendimento (por parte de portugueses) em inglês. Já respondi, inclusive, na língua de Shakespeare, mantendo a “farsa” até quase ao final, terminando com um bem sonante e português “muito obrigado”. Nessa altura arregalam os olhos… até já me pediram desculpa. Deve ser culpa dos meus olhos azuis.

Enfim, em resumo, adoro o Algarve. Vivo na melhor região do País. Um paraíso… pelo menos nos restantes 9 meses do ano!
Com a costa às costas!
Publicado no Magazine do Algarve

Existe uma linha que divide o radicalismo ambiental e uma orientação ou consciência de que devemos preservar o ambiente, como forma de sustentar a vida das populações, dos ecossistemas, enfim daqueles que partilham este planeta.

Sou da opinião que devemos procurar minimizar, dentro daquilo que nos for possível e razoável, os impactos negativos que diariamente infligimos no ambiente. Pequenas atitudes podem significar pouco; se uma maioria, ou pelo menos um grupo razoável, introduzir alguma mudança nos hábitos, acções por vezes tão simples, podemos contribuir para deixar às próximas gerações um planeta mais equilibrado e sustentado. No mínimo, menos estragado.

Diariamente são infligidos danos no ambiente. É certo que o planeta Terra tem demonstrado, nos milhões de anos de existência, uma forte personalidade. Mas nunca foi, como nas últimas décadas, tão desrespeitado, desconsiderado e violentado.

Há milhões de anos que um número incontável de espécies desapareceram, outro tanto apareceu ou evoluiu. As alterações climatéricas têm provocado problemas a espécies, às suas fontes de alimento, até à capacidade de adaptação. Os dinossauros, por exemplo, foram extintos. Não é de hoje… o planeta sempre esteve em conflito e em adaptação.

Mas existem situações concretas que me preocupam, quer seja como cidadão que vive no litoral, quer como contribuinte.

Portugal perdeu uma percentagem considerável da costa nos últimos milénios. É tremendo, mas a erosão é um processo natural que, infelizmente, está a ser descompensado pela nossa acção, pelas nossas necessidades e ambições. A construção de barragens, a exploração de areias no leito dos rios, os esporões, pontões, barras que foram construídos vieram aumentar o problema, especialmente porque fomo-nos concentrando no litoral e aí investindo.

Como contribuinte, preocupo-me com os milhões que foram e são investidos para salvar, por exemplo, um parque de campismo, para “meia dúzia” de pessoas poderem ter a sua “residência” de férias. E não é mais que isso, especialmente se considerarmos que está implantado numa zona que deveria ter sido protegida da ocupação, de qualquer tido de ocupação. Depois vem a exposição na comunicação social e, de repente, solidarizamo-nos com aquelas pessoas, que classificam de incompetentes as instituições responsáveis pela orla costeira. Mas ninguém nos explicou que o custo da reposição de areias é muito acima daquilo que é razoável. Não se trata de uma estância de turismo de qualidade, que gera receita turística e atrai outros investimentos relevantes. Nada disso: é uma espécie de bairro para férias de residentes em Lisboa, que por lá veraneiam. Se analisarmos o custo-benefício, provavelmente ficaríamos chocados.

No Algarve, a costa (natural) tem um papel determinante, essencial à manutenção da vida como a conhecemos, directa e indirectamente é dela que vivemos. Da pesca ao turismo. Com óbvios impactos nacionais. Podemos ser uma comunidade em vias de extinção, se não forem tomadas medidas contra o (aceleramento do) recuo da costa. Claro que o cenário é pessimista mas, ainda assim, preferia assistir à implementação de medidas preventivas, do que às de recurso ou contenção de prejuízos.

Que não haja dúvida: a destruição ou adulteração da costa significará o fim de milhões de receitas e de impostos. Será o fim do Algarve cosmopolita e urbano! Queremos assumir este custo? Assistir ao fim de praias, de falésias, da Ria Formosa, etc?

Proteger este Algarve, como o conhecemos, mesmo com alguns “crimes” urbanísticos, mais que uma necessidade ou uma estratégia de futuro, é uma responsabilidade!

2007-06-20

Portugal: uma viagem, uma busca, um destino!

Bussaco, Montemor-o-velho, Santa Clara (Quinta das Lágrimas), Serra da Lousã (Góis e Coentral)...





































Direito fundamental
Publicado no Jornal do Algarve

Podemos discutir a falta de liberdade, ou mesmo os limites que o Estado de direito impõe para manter o País governável! Não existem democracias plenas. As liberdades de uns são limitadas para garantir outras.

Passando à frente; a administração pública não é uma empresa. Uma empresa é uma sociedade privada que se rege por critérios democráticos, ainda que o sejam num plano teórico. Os accionistas ou sócios (os cidadãos deste universo) têm o direito de eleger uma administração e de a demitir, nos mesmos moldes que os eleitores elegem os seus representantes, substituindo-se aqui a Constituição da República pelo Pacto Social. Mas têm recursos humanos que não “cidadãos”da empresa. Naturalmente que as empresas assumem uma postura mais protectora, até pela confusão entre os seus “eleitores” e “Governo”, especialmente nas pequenas e médias empresas.

A opinião, a crítica política, a anedota, até o escárnio, são direitos que a Constituição nos atribui e que o Governo jurou defender. O Governo e todos os que são nomeados, temporária ou definitivamente. Este deve ser o espírito e a missão de todos os que aceitam a missão de serviço público. Já terá percebido onde é que estou a querer chegar! Então, aqui vai:

O tão falado caso da Direcção Regional de Educação do Norte foi uma mancha no nosso sistema político-administrativo. O professor Fernando Charrua não falou mal do “patrão”, como numa simples empresa. Foi enquanto cidadão que o fez, independentemente de se encontrar ou não no local de trabalho. Criticar um governante, enquanto eleitor, é um exercício de cidadania. O direito à indignação e à opinião são inatacáveis com expedientes administrativos! É um mau caminho.

O 25 de Abril de 1974 abriu-nos as portas para esta critica. Por isso, a bem da credibilidade do Governo e da Ministra da Educação, que tem sabido actuar contra as corporações e interesses instalados do seu sector, devem reflectir se a postura da Sr.ª Directora Regional é aceitável ou tolerável, ou pelo menos explicar-lhe a responsabilidade inerente à assunção -a título temporário- de um lugar público, com uma indissociável carga política! Estaremos a recuar nas nossas liberdades, direitos e garantias? Será confusão deste Governo? Julgo que não! Foi mais um lapso… ainda a tempo de ser esclarecido e resolvido. Bem sei que os processos disciplinares têm mecanismos de defesa, mas a suspensão e instauração de um inquérito por delito de opinião é, no mínimo, uma falta de sensibilidade. Por que caminho queremos levar a nossa democracia?

A administração pública não é independente, como a inglesa, por exemplo. E neste ponto, nenhum dos partidos que já ganharam eleições, quer sejam municipais, legislativas ou regionais são virgens na atribuição de lugares dirigentes a militantes ou simpatizantes. Não existem excepções. Nenhuma! Por isso, não vamos apontar o dedo… ninguém tem a unha suficientemente limpa.

Quanto a mim, este episódio é mais uma nota de rodapé nos problemas do País! É pena que não haja um esforço, como foi feito em Espanha, entre maioria e oposições, no sentido de aperfeiçoar o nosso regime. Começando por alicerçar o desenvolvimento e relançar a nossa economia. Há muito para fazer! É assim que se faz política! É assim que se faz democracia! É assim que se faz Portugal!

2007-06-12

2007-05-16

Destorce!!!
Publicado no Jornal de Algarve

Existe uma actividade verdadeiramente independente que nos persegue, quase acima da lei, ou pelo menos com grande desrespeito pela mesma, e que nos tenta sugar umas “moedinhas”. Trata-se do técnico de parqueamento urbano. Sim, o também chamado arrumador. Mas esta é uma designação pouco lisonjeira e até redutora.

Estes profissionais – e refiro-me aqui aos não licenciados, pelas autarquias entenda-se (não é uma piada à Universidade Independente) – estão para a melhoria das condições de estacionamento, como, sei lá, os autarcas para a coerência urbanística.

Eu não pago! Recuso-me a financiar dependências, muitas vezes ligadas a esta “actividade”. É pernicioso dar a tal moedinha, ou pelo menos fazê-lo sem a consciência que não estamos a ajudar, mas a contribuir para duas situações distintas: o vício e a impunidade de que estas pessoas gozam, ao ser virtualmente impossível afastá-las por muito tempo das zonas mais movimentadas da maioria das cidades do Algarve.

Os condutores estão limitados no estacionamento e nota-se uma tendência dos municípios disponibilizarem espaços de estacionamento com parquímetro (o que não acho errado, entenda-se), mas não é feito um esforço no sentido de acabar com este problema. São pessoas que, com base na ameaça latente de danificar propriedade alheia, conseguem facilmente extorquir dinheiro dos incautos automobilistas. Muitas vezes duplicando o esforço financeiro destes, ao estarem presentes em zonas com parquímetros.

Uma das soluções encontradas pelas autoridades que zelam pela segurança pública, não direi errada do ponto de vista jurídico, passa pela identificação in loco do meliante que ameaçou o incauto cidadão… é o mesmo que pedir para arranjar problemas num futuro próximo, especialmente se for na sua área habitual de estacionamento.

Será que as autarquias e até o Governo Civil não conseguem forçar uma solução para um problema tão simples? Quando é que pára esta extorsão encapotada!?!?

Aplique-se a lei e puna-se quem está muitas vezes ligado a problemas de abuso de substâncias estupefacientes ilegais, que não presta contas do rendimento da “actividade”, nem paga os impostos devidos. Isto para além das ameaças e das lutas territoriais que por vezes acontecem. Se são pessoas necessitadas de um acompanhamento social, de saúde, etc. providenciem-no e recuperem-nos para a economia real. O abuso é verificar que continuam a sujeitar-nos à ameaça de ficar com o carro riscado sempre que vamos ao Hospital, à baixa, no dia-a-dia quando estacionamos perto dos nossos locais de trabalho, em locais turísticos, enfim, por aí…

Será, já agora, esta imagem que queremos dar enquanto destino turístico?

2007-05-06

Só os loucos não aprendem*
Publicado no Região Sul

Comemoramos o 25 de Abril de 1974; dia que rompeu com os abusos sociais, as limitações económicas e os constrangimentos ideológicos. A falta de liberdade, em resumo e como mote. Acabou com os presos políticos, com o abuso do poder ditatorial, com a DGS. Enfim, Portugal saiu da triste letargia cinzenta em que se encontrava há quase meio século e rumou para um novo mundo. Do Estado Novo para um novo Estado. Essa era a esperança.

Este novo Estado foi feito como foi possível, com os limites que os tempos quentes impuseram. Construíram uma constituição de base socialista, depurada depois nas revisões subsequentes. Nacionalizaram sem critério nem estratégia. Insustentável ou não, abandonaram as colónias africanas, permitindo, por negligência, a tomada do poder por regimes totalitários. Ainda hoje pagam por isso.

Sou um dos que nasceu em 1974, já em democracia. Faz toda a diferença e permite escrever sem medo ou complacência seja por quem, ou pelo que for. Mas também sem a referência (ou experiência) da falta de liberdade. Esta é, aliás, a realidade de uma parte importante da população activa, naturalmente em crescimento, que em poucas décadas eclipsará a que viveu a ditadura! Foi pela falta de esforço e visão das políticas de educação dos sucessivos governos, que mantiveram disciplinas (ainda que opcionais) de educação religiosa e moral, em vez da verdadeira educação cívica, cidadania e de ética. Como será o 25 de Abril de 2050?

O Presidente da República apelou aos jovens para participarem na vida democrática. Com as críticas da Esquerda e os aplausos da Direita, fico no meio. Ou seja, apelar ao desenvolvimento da cidadania é fundamental. Se é apenas para votar, é limitativo. Se é para integrarem partidos, listas, movimentos, serem eleitos, participarem com opinião, com trabalho, com crescimento como profissionais e actores sociais, nesse caso é uma ideia para debate. Mas será sempre retórico… eu pelo menos já não me iludo. Ainda que a limitação de mandatos possa indirectamente facilitar… Será?

Passado que foi um terço de século sobre a revolução, que País temos?

Temos políticos eleitos (e não só) constituídos arguidos por abuso de poder, corrupção, entre outros crimes. Muitos deles encaminhados para a prescrição. Temos um País politicamente elitista, baseado quase que exclusivamente na partidocracia. Processos judiciais de elevado perfil e mediatismo, que levam anos nos tribunais e nas nossas televisões, anestesiando-nos. Um País onde o holocausto urbanístico foi permitido e parece ser ainda bem tolerado. Onde é mais fácil cometer um crime, ou uma contra-ordenação grave, do que efectivamente ser condenado. Onde fugir aos impostos é um passatempo nacional.

Mas esta é apenas uma das verdades. Também vivemos mais anos, com melhor saúde, mais esperança de vida à nascença, melhores condições económicas e de acesso aos bens de consumo e investimento. Viajamos mais. Lemos mais. Escrevemos muito mais (melhor ou pior). Consumimos avidamente informação e contamos com uma comunicação social presente e atenta. Existe desemprego, mas existe segurança social, reformas, subsídios de desemprego. Existem também 350 Centros de Saúde, com 2000 extensões; quase 90 hospitais. Somos hoje modernos e cosmopolitas como nunca fomos. Temos acesso à cultura em todas as regiões. Não apenas em Lisboa e Porto. Podemos escolhemos onde viver, o que fazer, a que horas e onde.

Podemos continuar a maldizer Portugal. Podemos apontar o dedo apenas para o lado mais negro. Mas existem sempre dois lados. Escolha o seu. Decida. Podemos contribuir para a mudança e melhoria. Este é um dos deveres de cidadania. Este também é um desígnio de “Abril”. Escolha o seu Portugal!

* de uma letra de Zeca Afonso

2007-05-02

Coerência.

Marques Mendes deu um (raro) exemplo de coerência em política.

Aguardamos a qualquer instante que o Anacleto Louçã venha defender eleições intercalares para a C.M. de Salvaterra de Magos.

2007-04-19

EXIT !

... Eis a próxima palavra de inglês técnico a aprender pelo Eng. Técnico José Sócrates.

2007-04-16

Se parece, tem boa probabilidade de ser… ou não!
Publicado no Região Sul

Não gosto de futebol. Sei bem que estou isolado neste assunto, mas custa-me ver sofrer por um desporto corrupto ou que personifica uma espécie de corrupção, perdoem-me a prosopopeia. Não digo que sejam todos, sequer a maioria, acredito até que sejam poucos, mas a má imagem vai instalando-se.

Não compreendo, ou fico assombrado, como é possível que até hoje o mais próximo que se esteve de ver justiça feita foi com o Apito Dourado, que –afinal–nem era de ouro de lei… e não tem final à vista.

Mas existem outros problemas que ninguém consegue resolver.

O triste espectáculo de Domingo, onde a claque do FCP demonstrou uma vez mais que está acima da lei; a polícia, que revelou outra vez que não tem ferramentas e estratégias para lidar com o assunto e o clube responsável pela escolha da localização da claque, que precipitou algo que estava latente, embora perca mais tempo a maldizer a Subcomissária Paula Monteiro e a instituição de segurança pública que representa. No limite, está a assobiar para o lado. No mínimo está a ser irresponsável.

Membros desta claque, segundo notícias, já assaltaram estações de serviço no regresso a “casa”. Já se habituaram à impunidade, com alguma arrogância, até a um estranho protectorado, ou pelo menos uma relativa complacência de todos.

Já assisti a uma outra claque conhecida partir garrafas e mobiliário urbano por onde passava.

Mas existem outros problemas no futebol português. É um desporto que galvaniza tantos, especialmente os mais novos, que vêm nos jogadores das equipas principais, figuras de referência. Apesar disso, permitem-se jogar por vezes sujo e quando não são apitados no rectângulo, dificilmente serão punidos pelas faltas de fairplay.

Como na política, existem comentadores desportivos para todas as opiniões e “credos”. O que é óptimo. Apesar de uma mesma imagem conseguir ter várias interpretações e fazer correr muita tinta nos vários jornais desportivos.

Também a ligação entre a política e o futebol, especialmente ao nível autárquico, admitindo que não seja a regra, dá um péssimo sinal destas instituições e da política no geral, que não precisa de mais este foco de descrédito. Embora os “sacos azuis”, os financiamentos ilegais, as permutas de terrenos, as compras e vendas de terrenos, as dívidas, enriquecimento sem causa, etc., mais pareçam ficar impunes. A tendência é julgar as pessoas na comunicação social, como uns pedem, mas ainda falta percorrer o longo calvário do sistema judicial… apenas para tudo ficar na mesma. Será?

Bom, também não posso dizer que desgosto de tudo o que esteja relacionado com futebol. Gostei especialmente da pista que foi feita no Estádio do Algarve para receber o Rally de Portugal. É uma ocupação bem mais interessante para o espaço! Desculpem-me o “sacrilégio” …